30.9.11

Privatizar

Por João Paulo Guerra

OS DADOS do Anuário do Sector Empresarial do Estado, da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, ontem citados abundantemente nos jornais, são arrasadores e fornecem, nesta fase do campeonato, temíveis armas de arremesso para os defensores das privatizações de tudo e mais algumas coisas.

As 77 empresas de capitais públicos têm prejuízos acumulados de milhares de milhões, a satisfação dos compromissos em dívida absorveria as receitas de décadas, muitas das empresas estão mesmo falidas, o absentismo no sector público é seis vezes superior ao privado e por aí fora. Enfim, a situação é de tal modo catastrófica que nem se entende como haja privados decididos a investir nos ramos operados pelas empresas públicas. Mas há.

A primeira questão é que não serão estas empresas falidas, ou simplesmente endividadas, com encargos monstruosos, desde "recursos humanos" a custos de gestão - administrações bicéfalas, salários e prémios milionários, gastos sumptuários - que o Estado vai levar à praça: serão empresas viabilizadas, saneadas, sem dívidas e com muito menos encargos, designadamente com pessoal. E como se fará esse milagre para que, depois, os privados invistam? À conta dos dinheiros públicos como, por exemplo, já aconteceu com o BPN, que o Estado vendeu em saldo, depois de injectar milhares de milhões para tapar buracos. Ou seja: os mesmos agentes do poder político que geriram o sector público como uma quinta privada recebida em herança de uma tia rica, submetem depois as empresas a uma dieta de emagrecimento para que despertem o apetite dos investidores. E os que pagaram a tripa-forra, pagam também a dieta. Para que, no fim do processo, alguém possa finalmente engordar com tanto emagrecimento.

«DE» de 30 Set 11

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