1.10.11

O grande das Caldas

Por Antunes Ferreira

DAS CALDAS são as canecas e as cavacas. Daqui não há que sair, a Rainha Dona Leonor não deixa, o Rafael Bordalo Pinheiro muito menos, e do Zé Povinho nem se fala. E ainda que ande muito esquecido – a memória é cada vez mais curta – é também o levantamento de 16 de Março de 1974 que, ainda que tenha abortado, foi o precursor e o balão de ensaio do 25 de Abril.

As canecas, de todos os tamanhos e feitios, mais coloridas ou menos, são sobejamente conhecidas pelo objecto que alojam no fundo delas. Objecto, aliás, que se repete pelas diversas lojas de cerâmica que existem na cidade, fora dos recipientes já mencionados e nas circunstâncias mais dispares, desde o hábito de frade conventual, até a cinzeiros e pisa-papéis.

Para o povo é o das Caldas e está tudo dito. O que tu queres é um das Caldas é frase recorrente, por vezes insultuosa, outras irónica, outras ainda jocosa. É um tanto como o ficar a ver navios que teve origem no desespero do general Junot ao chegar a Lisboa e ver que a frota com a família real portuguesa já levantara ferro com destino ao Brasil.

Uns quantos que se dizem mais pudicos não vêem com bons olhos as imagens fálicas originárias das Caldas da Rainha, nem pronunciam o dito que dela proveio. Mas, as mais das vezes, são falsas virgens, ruborizadas a vermelhão. Há gente para tudo, como é sabido. Porém, a grande maioria da lusa gente usa, sem rebuço, o termo – e sem recato.

E assim se ia vivendo, quando surge a escandaleira em Aveiro. Por mor de um símbolo erecto em dois sentidos: porque se ergue, pujante, como é norma de ceramista que se preze e porque o ergueram no Mercado do Peixe da cidade da Ria. Uns quantos aveirenses consideraram a obra ordinária, feia e escandalosa. A autora da obra, a ceramista Umbelina Barros, face à polémica, defendeu a sua criação e disse que «esperava reacções, mas não tão fervorosamente contra. Afinal, é uma obra escultórica e não um insulto».

Explique-se: o incómodo deveu-se ao facto de se tratar de um falo em grande, ou seja de dois metros e quarenta e sete centímetros bem medidos a que a criadora chamou «Garrafa». A questão é que o pelouro da cultura do município local decidiu colocar na porta de entrada do mercado José Estêvão a promover a Bienal Internacional de Cerâmica Artística.

De acordo com a vereadora Maria da Luz Nolasco, a escolha do local não fora inocente, atendendo a que o termo faz «parte da gíria das pessoas do peixe brincarem com esses termos e em arte interessa bom humor». As vendedoras vieram a revelar, porém, mais papistas do que o Papa. Escandalizaram-se e foi uma verdadeira peixeirada.

Comparada com ela foi a prisão de Isaltino Morais, o inefável e eterno presidente camarário de Oeiras, que, aliás, um dia depois da intervenção policial, foi devolvido à liberdade. Muitíssimos dos seus eleitores vieram para a praça pública protestar contra o que consideraram uma iniquidade e, por obra e graça dos advogados de defesa e de um despacho de uma juíza do Tribunal da cidade da Costa do Sol.

Este nosso País está cada vez uma anedota, ou seja, tem cada vez também mais graça, infelizmente. Ou mais desgraças, o que me parece mais correcto. É há muito boa gente, passe o exagero, que pensa que, com tudo a que estamos assistindo, se pode mandá-lo para o das Caldas. Desde que não seja em Aveiro…

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3 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Comentário do leitor "500", que não está a "aparecer" (não sei porquê):


«Sugestão: a autora do das Caldas que o exponha no Bolhão (pronuncie-se Bulhón), no Porto»

1 de outubro de 2011 às 14:01  
Blogger Julião Tendinha said...

Este têxto é péssimo, na base da graçola saloia a atirar para o porno. E insulta os Aveirenses, em especial as senhoras peixeiras, que têm muita razão. Por isso, o coiso vai ser retirado na já segunda-feira.

Volto a repetir que o Sr. Medina não devia autorizar cacas destas. Mas, pelo que vejo, não se impórta.

1 de outubro de 2011 às 20:27  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

«Nuno Oliveira tentou afixar aqui (mas não conseguiu) o seguinte comentário.
De qualquer forma, julgo que ele se referi ao texto sobre Isaltino de Morais, pelo que afixei lá uma cópia)

--

«Isaltino Morais tem estado na mira dos jornalistas e da bloga pelo motivo da sua detenção.
Os bloguers com espírito mais assertivo logo deram ênfase a este notório acontecimento, unindo-se em coro pela justiça que tardando sempre chegara.
Menos de um dia depois era anunciada a libertação de Isaltino e toda a bloga estremeceu de surpresa e indignação.
Agora surge a notícia de que a juíza que determinou a detenção do autarca verá a sua decisão sujeita a um inquerito.
Durante todos estes acontecimentos me coibi de efectuar qualquer tipo de comentário.
Não me regozigei com a detenção.
Não me surpreendi com a libertação.
Não me caguei todo a rir com a possível penalização da Srª. Juíza que ordenou o cumprimento da pena que Isaltino havia recebido.
Não sou mais do que os outros, notem.

Tenho boa memória.

Às vezes os meus colegas esquecem-se que estamos em Portugal.

Eu não, embora, por vezes, gostasse. »

2 de outubro de 2011 às 09:54  

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