10.10.11

Recessão

Por João Paulo Guerra

A austeridade aprofunda a recessão e a recessão reclama mais austeridade.

E é assim, a receita do círculo vicioso e infernal, sem saída, em que Portugal vive mergulhado, não de agora, da crise em curso, mas das políticas de todos os governos reclamados de constitucionais. A austeridade estoira com o consumo e com o mercado interno e os alegados motores da recuperação da economia - exportações e outros mitos - não conseguem ultrapassar a recessão. E para a recessão, os poderes aplicam as receitas que a provocaram. E daqui não saímos, sendo que muitos não sairão vivos. Ninguém tenha ilusões: há doentes e velhos que vão morrer de crise. Mas com a morte sempre aliviam o Estado de subsidiar o tratamento de mais um paciente e de pagar a contrapartida de mais uma carreira contributiva para a segurança social.

A questão é que a crise presente é mais alguma coisa que os cenários de um presente e de um amanhã de sacrifícios, penúria, fome e terror. É um processo metodicamente aplicado para empobrecer a classe média e fabricar mais uns tantos nababos à custa de mais uns milhões de pobres. E, de caminho, cortar pela raiz qualquer vislumbre de Estado Social que ainda existisse e de direitos sociais que os titulares considerassem adquiridos. Não haja ilusões: o que a austeridade está a retirar jamais será devolvido, sejam as reduções de salários e pensões, seja o chamado 13º mês, seja o subsídio de desemprego. Os cortes são para ficar e, havendo meios e oportunidade, para cortar ainda mais e para sempre.

Claro que o "para sempre" é um conceito relativo. A História está carregada de "planos para dez mil anos", como escreveu Bertold Brecht no seu Elogio da Dialéctica, gizados para que a injustiça avançasse a passo firme. E nem sempre avançou.

«DE» de 10 Out 11

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