7.10.11

República

Por João Paulo Guerra

O CHEFE de Estado aproveitou o dia da República para apresentar ao Governo um verdadeiro caderno de encargos de execução a médio prazo que, com frequência, mais pareceu um rosário de críticas ao poder executivo.

"Justiça na repartição dos sacrifícios"? O que é que o poder político impôs de comparável aos congelamentos e cortes salariais e de pensões e ao corte no 13.º mês aos portugueses com rendimentos que não resultam do trabalho por conta de outrem?
"Revitalização do tecido produtivo nacional, investimento privado, combate ao desemprego, aumento da produtividade e da produção de bens e serviços capazes de concorrer nos mercados externos"? Onde? Ou será que revitalizar o tecido produtivo e aumentar a produtividade se alcança asfixiando e liquidando empresas e sectores de actividade? E para além da mão-de-obra, com que mais concorre Portugal nos mercados externos?
"Os oceanos permanecem em larga medida por explorar"? E há quantos anos se procede ao desmantelamento das frotas portuguesas?
"Urge salvaguardar o nosso património histórico-cultural"? Reduzindo horários de museus e outras instituições culturais por falta de pessoal?
"Aproveitamento da floresta"? Cortando nos meios de combate aos incêndios florestais?
"Acima de tudo, dispomos actualmente de gerações qualificadas e empreendedoras, cujo talento e cujo dinamismo não podemos desperdiçar"? Com mais de metade dos jovens em trabalho precário e com o desemprego jovem a atingir 28 por cento?
"A escola deve pautar-se por critérios de qualidade e exigência"? Cortando na Educação o triplo do que foi exigido pela ‘Troika'?
"Aumento da responsabilidade social" das empresas? Abolindo a TSU e promovendo leis laborais que facilitam e embaratecem o desemprego?

O Governo aplaudiu o discurso. Terá ouvido bem?

«DE» de 7 Out 11

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2 Comments:

Blogger José Batista said...

Creio que sim, que terá ouvido.
Porque aquele discurso fez-se para ser feito e dito. Mas talvez não para ser ouvido.
Alguém acredita naquilo? A começar por quem o disse?
Para mim, o nosso presidente da república é um fiasco. Muito pior do que eu podia imaginar. Como a república. Como o país. Como nós.
E estou a ser eufemístico.
E evitei pronunciar-me em vernáculo.
Peço desculpa pela frontalidade.
É da náusea.

7 de outubro de 2011 às 22:51  
Blogger José Batista said...

Eh... lá!
Na primeira linha do comentário anterior devia ter escrito: Creio que sim, que terá ouvido (com orelhas de não ouvir).
Mas ficou(-me) assim...

8 de outubro de 2011 às 14:25  

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