14.12.11

«Dito & Feito»

Por José António Lima

RUI PEREIRA, ministro do infausto Governo de Sócrates, veio esta semana desabafar que «já ninguém consegue ouvir sem uma ponta de indignação os representantes da troika».

E isso «não só por uma questão de orgulho e soberania nacional, mas também porque os conselhos que recebemos da troika são suspeitos por natureza». Aqui chegados, convém recordar duas ou três coisas a Rui Pereira.
Primeiro, que neste seu papel de pobre e mal agradecido parece esquecer que ele próprio já não estaria a receber o seu ordenado ou pensão de funcionário público sem a ajuda financeira que os ‘suspeitos por natureza’ se dispuseram a dar a Portugal.
Segundo, que, a menos que estejamos todos enganados, Rui Pereira foi co-responsável do Governo que, à beira do abismo, chamou a troika em desespero de causa para acudir ao país.
Terceiro, que foi esse mesmo Governo o promotor da irresponsabilidade despesista e do endividamento galopante que colocaram Portugal na bancarrota, hipotecando a sua soberania financeira e a sua dignidade internacional.

Não satisfeito com esta sua lamentável demonstração de falta de responsabilidade cívica e de ingratidão pública, Rui Pereira ainda se dá ao luxo de brincar com coisas sérias e lançar umas piadolas: «É de temer que um dia destes a troika se renda incondicionalmente ao malthusianismo e apresente um plano de diminuição, talvez em um terço, da população portuguesa». Muito engraçadinho mas de um chocante mau gosto (não resistindo a referências a Hitler e à ‘solução final’) vindo de quem acabou de pedir de mão estendida a ajuda que agora, com ela já no bolso, procura achincalhar e menosprezar em tom sobranceiramente trocista.

Da Madeira chegou outro irónico aliado de Rui Pereira. Com a corda da gigantesca dívida madeirense na garganta, Alberto João Jardim veio esbracejar que «a Madeira não tem nada a ver com a troika» e lamentar que em Lisboa «se tenha estendido o tapete vermelho a funcionários estrangeiros para dar ordens ao nosso país». Jardim e Rui Pereira são uns pândegos. O problema é serem uns pândegos irresponsáveis que só nos envergonham.
«SOL» de 9 Dez 11

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