24.1.12

Criancinhas, fisco e almoços

Por Ferreira Fernandes

O FURO foi do Jornal de Negócios, infelizmente um jornal sério, o que o impediu de ver o tamanho do escândalo que tinha entre as mãos. "Desapareceram 111 mil crianças nos registos do fisco", foi a manchete do jornal, ontem.
Especializado em economia - com "Agenda do Investidor", "Guia da Bolsa", e algarismos assim - naturalmente o jornal seguiu a pista mais seca: os impostos aceitavam de boa fé as informações das famílias dizendo que tinham filhos para reduzir o IRS; desde o ano passado, porém, é obrigatório que todas as crianças tenham número de contribuinte... Resultado, num ano desapareceram as tais 111 mil crianças. Crime fiscal, disse o Jornal de Negócios. Conclusão precipitada, acho eu. Permitam-me que traga para aqui o clássico Jonathan Swift.
O irlandês é autor da célebre As Viagens de Gulliver, mas é de outra obra sua que falo. Depois do título Modesta Proposta (1729), seguia-se esta explicação: "Para impedir as crianças pobres na Irlanda de serem pesadas aos seus pais e ao seu País..." A obra foi escrita durante uma crise grave na Irlanda e a modesta proposta era, tão-só, comer os bebés: "Uma criança saudável na idade de um ano é um alimento delicioso, nutritivo e são..."
Swift escreveu-a como sátira política, e até nos seus tempos foi entendida assim. Receio é que os contribuintes portugueses, médios e pobres, habituados que estão a que sejam sempre eles a pagar a crise, tenham levado Jonathan Swift à letra.
«DN» de 24 Jan 12

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1 Comments:

Blogger brites said...

Os pobres não enganam,não porque sejam mais honestos,mas porque não sabem,umas vezes,outras por medo.
Os espertalhões têm na manga a manobra pronta para se justificarem.
Nao comem os bebés!

25 de janeiro de 2012 às 09:32  

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