Crise mata
Por João Paulo Guerra
UM VERDADEIRO torneio de esgrima verbal está a opor eminentes quadros e observadores do sistema de saúde sobre as causas do excesso de mortalidade nas últimas semanas em Portugal.
Sendo indiscutível que o número de óbitos verificados ultrapassa largamente o de óbitos esperados - cerca de um milhar a mais entre a última semana de Fevereiro e a primeira de Março - há que procurar a conjugação de causas para tal efeito. Dizem uns que o perfil da mortalidade das últimas semanas não é anormal, atribuindo o número de mortes simplesmente ao período de frio extremo, em conjugação com a ocorrência tardia da epidemia de gripe. Contrapõem outros que os efeitos da crise económica e do aumento das taxas moderadoras devem também ser levados em conta.
Quem são uns e outros? Os primeiros são responsáveis do aparelho e de instituições dependentes do Estado. Os segundos são um ex-director-geral de Saúde e o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública. São todos autoridades na matéria, só que uns estão subordinados à hierarquia do Estado e outros emanam da sociedade civil. Ou seja, uns têm a opinião do Estado, vigiada pela hierarquia. Outros têm e manifestam opinião própria.
Agora digam lá quais consideram «hipóteses plausíveis» para explicar os anormais picos de mortalidade certos efeitos da crise económica - como os preços do aquecimento doméstico e mais dificuldade no acesso aos medicamentos e à saúde com o aumento das taxas moderadoras. E quais dizem simplesmente que este excesso de mortalidade é da mesma magnitude do observado em anos anteriores, ponto final, acabou-se a conversa.
Pois é, os portugueses estão a morrer mais porque estão mais pobres e o Estado não quer que se saiba.
«DE» de 7 Mar 12UM VERDADEIRO torneio de esgrima verbal está a opor eminentes quadros e observadores do sistema de saúde sobre as causas do excesso de mortalidade nas últimas semanas em Portugal.
Sendo indiscutível que o número de óbitos verificados ultrapassa largamente o de óbitos esperados - cerca de um milhar a mais entre a última semana de Fevereiro e a primeira de Março - há que procurar a conjugação de causas para tal efeito. Dizem uns que o perfil da mortalidade das últimas semanas não é anormal, atribuindo o número de mortes simplesmente ao período de frio extremo, em conjugação com a ocorrência tardia da epidemia de gripe. Contrapõem outros que os efeitos da crise económica e do aumento das taxas moderadoras devem também ser levados em conta.
Quem são uns e outros? Os primeiros são responsáveis do aparelho e de instituições dependentes do Estado. Os segundos são um ex-director-geral de Saúde e o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública. São todos autoridades na matéria, só que uns estão subordinados à hierarquia do Estado e outros emanam da sociedade civil. Ou seja, uns têm a opinião do Estado, vigiada pela hierarquia. Outros têm e manifestam opinião própria.
Agora digam lá quais consideram «hipóteses plausíveis» para explicar os anormais picos de mortalidade certos efeitos da crise económica - como os preços do aquecimento doméstico e mais dificuldade no acesso aos medicamentos e à saúde com o aumento das taxas moderadoras. E quais dizem simplesmente que este excesso de mortalidade é da mesma magnitude do observado em anos anteriores, ponto final, acabou-se a conversa.
Pois é, os portugueses estão a morrer mais porque estão mais pobres e o Estado não quer que se saiba.
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