Fahrenheit 451
Por João Paulo Guerra
CERTAMENTE que não é por morrer uma andorinha que se acaba a Primavera.
Nem será por fechar mais uma livraria que se acaba de vez com a cultura. Mas na Rua do Carmo, em Lisboa, fechou ao cair da tarde do último dia de Fevereiro a Livraria Portugal e mais rico, mais culto e letrado ou mais vivo é que o País não ficou com certeza absoluta.
Em primeiro lugar porque fazemos parte de uma civilização que combateu os odiosos queimadores de livros. E deixar que uma livraria de 70 anos acabe é permitir que o mercado eleve o ódio, o desprezo pelos livros e pela leitura à temperatura fatal de Fahrenheit 451. Em segundo lugar, porque grande ou pequeno este é sempre um triunfo dos porcos. Em terceiro lugar, porque quando os homens dão pelo irremediável de uma situação assim descobrem, em geral, que não fizeram tudo o que lhes era pedido - e era pouco - para manter vivo o culto pelos livros.
A Portugal era uma livraria e não um cemitério de livros esquecidos. Fez o seu caminho e a sua história de 70 anos ao vivo, em tertúlias onde se reuniam e dissertavam grandes figuras do pensamento. E quem entrava ficava para ouvir ou pedia mesmo a palavra. Porque a palavra, como a água, é algo que não se nega a ninguém. Quem lá entrava, nos últimos anos, encontrava pessoal conhecedor das questões dos livros e da edição e não meros fiéis de armazém de maços de papéis pintados com tinta.
Quarta-feira ao fim da tarde, a Livraria Portugal vendeu uma gramática de Língua Portuguesa a uma professora radicada em França e depois fechou. O que os novos queimadores de livros não sabem é que no embrulho do derradeiro volume vendido na Livraria Portugal, escondidas entre as suas folhas, viajaram para o futuro as sementes de mais livros e mais cultura.
CERTAMENTE que não é por morrer uma andorinha que se acaba a Primavera.
Nem será por fechar mais uma livraria que se acaba de vez com a cultura. Mas na Rua do Carmo, em Lisboa, fechou ao cair da tarde do último dia de Fevereiro a Livraria Portugal e mais rico, mais culto e letrado ou mais vivo é que o País não ficou com certeza absoluta.
Em primeiro lugar porque fazemos parte de uma civilização que combateu os odiosos queimadores de livros. E deixar que uma livraria de 70 anos acabe é permitir que o mercado eleve o ódio, o desprezo pelos livros e pela leitura à temperatura fatal de Fahrenheit 451. Em segundo lugar, porque grande ou pequeno este é sempre um triunfo dos porcos. Em terceiro lugar, porque quando os homens dão pelo irremediável de uma situação assim descobrem, em geral, que não fizeram tudo o que lhes era pedido - e era pouco - para manter vivo o culto pelos livros.
A Portugal era uma livraria e não um cemitério de livros esquecidos. Fez o seu caminho e a sua história de 70 anos ao vivo, em tertúlias onde se reuniam e dissertavam grandes figuras do pensamento. E quem entrava ficava para ouvir ou pedia mesmo a palavra. Porque a palavra, como a água, é algo que não se nega a ninguém. Quem lá entrava, nos últimos anos, encontrava pessoal conhecedor das questões dos livros e da edição e não meros fiéis de armazém de maços de papéis pintados com tinta.
Quarta-feira ao fim da tarde, a Livraria Portugal vendeu uma gramática de Língua Portuguesa a uma professora radicada em França e depois fechou. O que os novos queimadores de livros não sabem é que no embrulho do derradeiro volume vendido na Livraria Portugal, escondidas entre as suas folhas, viajaram para o futuro as sementes de mais livros e mais cultura.
«DE» de 6 Mar 12
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