5.3.12

Tráfico de audiências

Por Ferreira Fernandes

A GfK, empresa alemã de audiências televisivas, veio para Portugal. Da pátria dos matemáticos, de Leibniz a Carl Gauss, contratada para fazer contas num país de poetas.
Como se medem audiências televisivas? Em casas de portugueses-tipo colocam-se boxes que dizem o canal televisivo que está, a dada hora, a ser visto.
Na semana passada, a GfK apresentou os seus primeiros números e estes foram estranhos. Primeiro, por tão diferentes dos números da empresa anterior. Aí, a culpa podia ser desta, mas como a RTP, em vias de ser vendida, é a principal prejudicada pelos atuais números, já há teorias da conspiração...
Em segundo lugar, há dados da GfK impossíveis. Ontem, o especialista Eduardo Cintra Torres alinhou algumas das bizarrias. Um Telejornal no dia dos crimes de Beja sem um único telespectador; 20 minutos da 2.ª parte de um Guimarães-Benfica também sem ninguém a ver...
Nessa trapalhada, tranquilizou-me uma explicação do porta-voz da GfK: os portugueses-tipo mais idosos têm tido "dificuldades a colaborar connosco." Quer dizer, não é a GfK que não soube explicar as boxes aos velhotes, a culpa é destes.
Como sou da terra definida por uma anedota de Raul Solnado (Chefe, fiz um prisioneiro! - Onde está? - Não quis vir!), saúdo a recém-chegada GfK. Em números, talvez não seja tão alemã como eu esperava. Mas comove-me como rapidamente ela se tornou tão portuguesa nessa arte de dizer que o outro é que não quis.
«DN» de 5 Mar 12

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