Uma questão de carácter
Por Baptista-Bastos
PELOS VISTOS, Álvaro Santos Pereira não está cansado de ser exautorado pelo primeiro-ministro, que já lhe retirou competências em muitas funções e, agora, na coordenação dos fundos comunitários. Anteontem, esteve um par de horas a falar com Passos. Esperava-se que, num assomo de carácter, pedisse a demissão. Não pediu. E saiu cabisbaixo e acabrunhado do triste encontro. Passos Coelho deu-lhe a volta e venceu, pelo menos momentaneamente. Esta quezília de poderes, que originou um conflito mais ou menos aberto entre Gaspar e Pereira, e energicamente desmentido por Passos, fornece uma imagem deplorável do Governo. Tanto mais que as antipatias políticas e individuais, no Executivo, não se limitam àqueles dois. As coisas fiam mais fino. O primeiro-ministro já disse que a "decisão final" da distribuição dos dinheiros cabe a Gaspar. Porém, o patronato não gosta nada deste e enleva-se com o ministro da Economia.
Diz quem diz saber que Santos Pereira foi um erro de escolha, ou de casting, na expressiva designação cinematográfica de alguns preopinantes. Ignoro que seja assim. Mas o homem é tendente a tolejos, e reflecte um alucinante desconhecimento da realidade portuguesa e dos portugueses. Como o indígena é cruelmente sarcástico para quem revela debilidades de índole, as inépcias do ministro deram origem a que seja maltratado e, até, injuriado. E ninguém descortina a razão pela qual foi chamado de Vancôver, onde era professor de economias gerais, e os alunos o tratavam, meigamente, por "Álvaro".
Há, em tudo isto, um equívoco e uma ambiguidade. Equívoco que se traduz na pergunta: porquê ele?, como se, em Portugal, não houvesse gente capaz. Com que acerto e objectivo foram desinquietar o homem, lá longe, onde fazia uma carreira morosa, certinha e lisa, castamente académica? Ambiguidade porque não pode deixar de causar pasmo os oblíquos impulsos que o levaram a aceitar um cargo penoso, desconhecido e ingrato, para o qual estava pouco fadado. A vontade de ser ministro falou mais forte, é o que se deixa ver, revelando as fragilidades de um temperamento e as vaidades de um espírito débil.
Tudo isto é um desconsolo, e anima aqueles que vêem no Governo um pesadelo não climatizado. Pedro Passos Coelho está sozinho em campo, actuando com a cadência de um autocrata. O caso Gaspar-Santos Pereira é significativo. Pena é que o "líder da oposição" se vá consumindo com alegados de segunda categoria, e se disperse numa retórica sem direcção nem sentido. O Executivo, tal como está, desfaz-se em contradições, instabilidades e amuos, mas o PS também não está de boa saúde, a avaliar pelo que acontece na bancada parlamentar e na intriga interna, estimulada por "socratistas" infatigáveis. Num lado e no outro, a questão é, sobretudo, de carácter.
.PELOS VISTOS, Álvaro Santos Pereira não está cansado de ser exautorado pelo primeiro-ministro, que já lhe retirou competências em muitas funções e, agora, na coordenação dos fundos comunitários. Anteontem, esteve um par de horas a falar com Passos. Esperava-se que, num assomo de carácter, pedisse a demissão. Não pediu. E saiu cabisbaixo e acabrunhado do triste encontro. Passos Coelho deu-lhe a volta e venceu, pelo menos momentaneamente. Esta quezília de poderes, que originou um conflito mais ou menos aberto entre Gaspar e Pereira, e energicamente desmentido por Passos, fornece uma imagem deplorável do Governo. Tanto mais que as antipatias políticas e individuais, no Executivo, não se limitam àqueles dois. As coisas fiam mais fino. O primeiro-ministro já disse que a "decisão final" da distribuição dos dinheiros cabe a Gaspar. Porém, o patronato não gosta nada deste e enleva-se com o ministro da Economia.
Diz quem diz saber que Santos Pereira foi um erro de escolha, ou de casting, na expressiva designação cinematográfica de alguns preopinantes. Ignoro que seja assim. Mas o homem é tendente a tolejos, e reflecte um alucinante desconhecimento da realidade portuguesa e dos portugueses. Como o indígena é cruelmente sarcástico para quem revela debilidades de índole, as inépcias do ministro deram origem a que seja maltratado e, até, injuriado. E ninguém descortina a razão pela qual foi chamado de Vancôver, onde era professor de economias gerais, e os alunos o tratavam, meigamente, por "Álvaro".
Há, em tudo isto, um equívoco e uma ambiguidade. Equívoco que se traduz na pergunta: porquê ele?, como se, em Portugal, não houvesse gente capaz. Com que acerto e objectivo foram desinquietar o homem, lá longe, onde fazia uma carreira morosa, certinha e lisa, castamente académica? Ambiguidade porque não pode deixar de causar pasmo os oblíquos impulsos que o levaram a aceitar um cargo penoso, desconhecido e ingrato, para o qual estava pouco fadado. A vontade de ser ministro falou mais forte, é o que se deixa ver, revelando as fragilidades de um temperamento e as vaidades de um espírito débil.
Tudo isto é um desconsolo, e anima aqueles que vêem no Governo um pesadelo não climatizado. Pedro Passos Coelho está sozinho em campo, actuando com a cadência de um autocrata. O caso Gaspar-Santos Pereira é significativo. Pena é que o "líder da oposição" se vá consumindo com alegados de segunda categoria, e se disperse numa retórica sem direcção nem sentido. O Executivo, tal como está, desfaz-se em contradições, instabilidades e amuos, mas o PS também não está de boa saúde, a avaliar pelo que acontece na bancada parlamentar e na intriga interna, estimulada por "socratistas" infatigáveis. Num lado e no outro, a questão é, sobretudo, de carácter.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
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«DN» de 7 Mar 12
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1 Comments:
O Baptista Bastos não descortina por que é que foram chamar o Álvaro.
É fácil.
O Álvaro escreveu um livro sobre a forma de Portugal se afundar na crise.
Ora o Farsola de Massamá não conseguiu arranjar mais ninguém com tal curriculum.
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