17.3.12

Uma Gralha na Varanda - Pune, só quatro milhões

Por Antunes Ferreira

AO FIM de onze horas de viagem nocturna chegamos a Pune, पुणे em marati, onde já tínhamos estado há dois anos. O veiculo é excelente, com bancos reclináveis, ar condicionado evidentemente, óptima suspensão e, o melhor de tudo, rádio e televisão mudos. O que é, para estas bandas, notável, porque o normal é um volume de decibéis de assustar qualquer tímpano, por mais resistente que seja. Para os indianos, porém, as estridências são música celestial. O que usámos para a volta, talvez até um pouco melhor.

A estrada tem duas partes absolutamente distintas. A primeira, ou seja a saída de Goa é mazinha. Está há uns anitos em reconstrução, com novas pontes, alargamento do piso e coisas dessas. Em alguns tramos é mesmo muito má. Mas é o que se pode arranjar… A partir de Kolhapur, já no estado de Maharashtra, o segundo maior e mais populoso da Índia, há uma autoestrada que por vezes passa no meio de povoações e por isso é percorrida tranquilamente por cidadãos de bicicleta, de carros de bois e… a pé. E, obviamente, por vacas. Muito curioso; de dia, como diria o amigo Banana, vê-se melhor. De noite, enfim, é mais tangente ao susto, porque os veículos a pedal não usam luzes traseiras e vermelhas, nem mesmo reflectores, e os simpáticos peões muito menos. Quer queiram, quer não, é a Índia. Triângulos de sinalização – onde? Camiões estacionados – muitos.

À nossa espera o Volkswagen Passat, com o Sashikant sorridente. Conhecidos desde a estadia anterior, foi uma festa. Ressalvo: o motorista, esse, sim; o bólide é modelo actualíssimo, com mudanças automáticas e outras mariquices. E em casa, a Isabel Franco do Carmo, com uma barriga de oito meses, a menina vai chamar-se Sofia, o marido Tom, os pais dela, a Lena e o Zé Pedro. E a Joana, a caminho dos oito anos. Estamos em família – e em casa.

Já há dois anos o referi: a engenheira Isabel veio a Pune abrir a fábrica da Volkswagen. É a sua terceira gracinha neste particular: já o fez a Brasil e no México. Uma verdadeira estrela entre os especialistas na matéria. O que é bem o exemplo do que os Portugueses são capazes de fazer. Digo até que, para mim, e que me desculpe a Amiga que conheço desde os seus 14 anitos, é a nossa vingança contra a senhora Angela Merkel…

De Pune ou Poone ou Puna para os lusos conto dar umas pinceladas, para além dos traços que na visita anterior deixara. Avenidas largas e ruas e becos e travessas estreitíssimas. Há semáforos por toda a parte, mas o trânsito é o que se sabe. Asif, outro dos três condutores dos três carros que servem a Isabel e família, comenta, em sotto voce, que em Pune é mau, mas em Goa é muito pior. Concordo. Aliás, quem seria eu para discordar?

Dizem que é a urbe que mais cresce na vertical, ou seja onde se constroem a um ritmo quase alucinante os maiores arranha-céus do país. Urbanizações e grandes centros comerciais nascem como cogumelos. Não é uma cidade grande: de acordo com os últimos números tem apenas quatro milhões de habitantes, quiçá mesmo mais uns 250 mil. O que, comparado com a capital do estado marata é uma ninharia. Mumbai, a antiga Bombaim, tem mais de 14 milhões. E até há quem diga que ultrapassa os 16 milhões. Minudências.

Etiquetas: