A Grécia aqui tão perto
Por Manuel António Pina
AS CHOCANTES declarações da directora-geral do FMI ao "Guardian" revelam
bem que género de gente preside hoje aos nossos destinos e a quem
governos como o português ou o grego subservientemente se vergam. Por
momentos, Lagarde deixou cair o idioleto técnico com que ela, Durão
Barroso e a "fürehrin" Merkel, mais os seus feitores locais, justificam o
empobrecimento forçado dos povos e mostrou o rosto selvagem do
neoliberalismo dominante, assente no direito do mais forte à liberdade.
Perguntada se não lhe custava impor ao povo grego, sobretudo aos
mais pobres, medidas de austeridade que cortam em serviços fundamentais
como a saúde, a assistência social ou o apoio a idosos, a
directora-geral não podia ser mais clara (nem mais cínica): "Penso mais
nas crianças que andam na escola, numa pequena aldeia do Níger, que
apenas têm duas horas de aulas por dia e partilham uma cadeira por
três...".
E que tem Lagarde a dizer àqueles que, na Grécia, todos
os dias lutam hoje pela sobrevivência, sem emprego e sem serviços
públicos? Que se ajudem a si próprios "pagando os seus impostos". Mas as
crianças, senhora? "Bem, os pais são responsáveis, não? Por isso os
pais que paguem os seus impostos".
Maria Antonieta não o teria
dito melhor. Só que os "sans cullotes" de hoje persistem em crer que
ainda vivem em democracia (se calhar até em democracia económica).
«JN» de 28 Mai 12Etiquetas: MAP
1 Comments:
Eles (e elas, certos eles e certos elas) comem tudo.
Comem tudo.
E não deixam nada.
A não ser que... nós não deixemos.
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