A velhinha que salvou o pintor
Por Ferreira Fernandes
EM SARAGOÇA, havia a Farmácia Ríos, centenária e com belos móveis,
cerâmicas e frescos. Em 1987, a farmácia fechou, foi vendida e a família
doou o mobiliário e as cerâmicas para um futuro museu. Mas os frescos,
agarrados às paredes, desapareceram na voragem do negócio. Não sei se
hoje é hamburgueria ou banco, mas deve ser comércio que não saberia
explicar o porquê de retortas desenhadas nos tetos. Eram obras de Elías
García Martínez (1858-1934), professor na Escola de Belas Artes de
Saragoça, pintor de arte efémera (fazia obras religiosas para os
desfiles da Semana Santa), mas que merecia, como todos os artistas
dedicados, ter deixado memória. As notas breves da sua biografia na
Wikipedia não são ilustradas por nenhuma das suas pinturas - esquecido,
era o que estava o homem. Por exemplo, um seu fresco, um Cristo, numa
capela de Borja, na província de Saragoça, não atraía os turistas,
desalentados pelos cinco quilómetros até ao cimo de um monte.
Esta
semana, porém, esse Cristo tornou-se a pintura mais famosa do mundo...
Cecília, uma velhinha de 80 anos, fiel da capela de Borja, pesarosa
pelos estragos do tempo no Ecce Homo, decidiu dar-lhe uma demão. Como na
cena célebre de um filme de Mr. Bean, Cecília borrou a pintura... Ou
talvez não.
Olha-se para o novo Cristo e causa compaixão: e não é esse o
sentido fundo do Ecce Homo? Depois, uma coisa é certa: começou a
corrida às obras de Elías García Martínez, o ex-esquecido.
«DN» de 23 Ago 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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