Legendas e narrativas
ONTEM,
lendo os online dos jornais portugueses, fiquei horrorizado com mais
uma catástrofe nacional. Minto, com A catástrofe! Então não é que os
filmes da Cinemateca, para poupar, estão a passar sem legendas?
Tudo
começou quando Vítor Gaspar (agora os filmes de terror começam sempre
com ele) fez um despacho que proíbe os organismos públicos de contraírem
novas despesas sem autorização do Ministério das Finanças. Eu presumo
que a medida (que é da Finanças e transversal) tenha também obrigado os
autotanques de bombeiros a poupar na água e os hospitais a cortar no
tamanho dos esparadrapos. Mas, naturalmente, a indignação foi criteriosa
e o País pasmou com os filmes sem legendas que passam nas salas da
Cinemateca. Eu sei que nas sessões de ontem os filmes eram em línguas
acessíveis (inglês, espanhol e italiano), mas o direito à legendagem é
(e se não é, deveria ser) constitucional. Um dos filmes, aliás,
chamava-se La Libertad, numa língua que a muito português, solidário com
a Catalunha, repugna ser obrigado ele próprio a traduzir.
Atendendo à
emoção que li ontem, à Cinemateca mais valia morrer de pé, ou queimar as
bobinas. A única vantagem de apagar as legendas é que me apagou uma
lenda: eu estava convencido (convenci-me lendo os mais sábios dos nossos
críticos de cinema) de que o essencial dos filmes era o contre-plongée e
o travelling das câmaras. Afinal, isso era lenda. O parlapié dos atores
também faz falta.
«DN» de 9 Out 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
Diário Digital com Lusa:
«A secretaria de Estado da Cultura considerou hoje que “cabe aos responsáveis dos diferentes organismos adotarem as medidas de gestão corrente mais indicadas”, reagindo à suspensão, pela Cinemateca, do sistema de legendagem eletrónica dos filmes que exibe. "Os organismos sob tutela da Cultura não são, obviamente, exceção às medidas temporárias que visam adequar os recursos disponíveis às necessidades mais prementes, ao nível da despesa do Estado”, afirmou à Lusa o adjunto para a comunicação do secretário de Estado da Cultura.
A diretora da Cinemateca Portuguesa, Maria João Seixas, disse à Lusa que a partir de hoje foi suspenso, por tempo indeterminado, o sistema de legendagem eletrónica dos filmes que exibe, por causa das medidas de controlo orçamental e advertiu que poderá haverá mais cortes.
A decisão implicará a exibição de filmes estrangeiros na língua original, nomeadamente o ciclo dedicado ao realizador Lisandro Alonso ou, por exemplo, as produções italianas de Marco Bellochio, Vittorio Cottafavi e Pasolini, previstas para este mês.
A mesma fonte da secretaria de Estado reforçou afirmando que “cabe aos responsáveis dos diferentes organismos adotarem as medidas de gestão corrente mais indicadas, de forma a minorar os efeitos a curto prazo dessas medidas, garantindo da melhor forma a eficácia dos serviços prestados e o cumprimento do interesse público".
A legendagem em português só será acrescentada caso o Ministério das Finanças autorize e comunique a contratação do serviço "em tempo útil", refere a Cinemateca.
Em causa, explicou Maria João Seixas, está um despacho do Ministério das Finanças, de 12 de setembro, com medidas de controlo orçamental que afetam a instituição.
A responsável referiu ainda que na programação de outubro estará afetada a legendagem dos filmes, mas o programa mensal do organismo está em risco até ao final do ano.
"Haverá mais talhadas, seguramente, e é espectável que haja uma quebra de espetadores", disse Maria João Seixas, referindo-se a outras medidas que deverão afetar o funcionamento da Cinemateca e a programação.
"O melhor termo para definir este último trimestre é 'embaraçoso'", por falta de respostas e decisões no que toca à Cinemateca, disse Maria João Seixas, referindo-se às questões e pedidos colocados pela instituição ao Ministério das Finanças.»
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