«Dito & Feito»
Por José António Lima
SÓ FALTAVA Durão Barroso vir ajudar à festa da quase absoluta
descoordenação política do Governo. Foi o presidente da Comissão
Europeia – e não Passos Coelho ou o ministro Vítor Gaspar – quem veio
anunciar aos portugueses que a troika já tinha dado luz verde ao novo
pacote de austeridade que vem substituir as polémicas alterações da TSU.
«Nós,
Comissão, já demos a nossa aprovação a medidas alternativas que foram
apresentadas pelo Governo», revelou Barroso na segunda-feira, em tom
assertivo e definitivo.
Ora, acontece que o presidente da CE
falava de medidas que vão tornar ainda mais duras e difíceis as
condições de vida em 2013 da maioria dos portugueses, mas que estes
ainda desconheciam. Barroso falou com o conhecimento e a concordância
prévia de Passos Coelho? Ou disse, inadvertidamente, mais do que era
suposto dizer? Em qualquer dos casos, o efeito foi, uma vez mais, o pior
possível para a autoridade do Governo de Passos Coelho.
D epois
da desgraçada gestão do dossiê TSU – em que se isolou politicamente,
falhou na frieza da comunicação, não previu as reacções nem as
consequências e se viu, por fim, obrigada a recuar em toda a linha – o
Governo e Passos Coelho pareciam decididos a emendar a mão e a corrigir
esses erros. Mostrando, além do pragmatismo de deixar cair a TSU, a
intenção de dar maior importância à concertação social e ao consenso
político alargado. Envolvendo mais os parceiros sociais, por um lado, e o
PS, por outro, na discussão e elaboração das medidas de austeridade
alternativas à TSU.
Afinal, tal como sucedera com a famigerada e
defunta TSU, em relação à qual Passos Coelho ignorou os parceiros
sociais e menosprezou o PS (avisado apenas uma hora antes do anúncio das
medidas), a história voltou a repetir-se. O anúncio de Durão Barroso
deixou a CIP, a CCP, a UGT e o PS incrédulos e de boca aberta, antes de
Vítor Gaspar falar ao país.
Se a isto juntarmos o ressabiamento,
em relação aos empresários e à queda da TSU, de Carlos Moedas, Passos
Coelho, Jorge Braga de Macedo e António Borges, pode dizer-se que a
comunicação e a coordenação política do Governo andam mesmo pelas ruas
da amargura.
«SOL» de 5 Out 12 Etiquetas: autor convidado, JAL
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