8.10.12

«Dito & Feito»

Por José António Lima
SÓ FALTAVA Durão Barroso vir ajudar à festa da quase absoluta descoordenação política do Governo. Foi o presidente da Comissão Europeia – e não Passos Coelho ou o ministro Vítor Gaspar – quem veio anunciar aos portugueses que a troika já tinha dado luz verde ao novo pacote de austeridade que vem substituir as polémicas alterações da TSU.
«Nós, Comissão, já demos a nossa aprovação a medidas alternativas que foram apresentadas pelo Governo», revelou Barroso na segunda-feira, em tom assertivo e definitivo.
Ora, acontece que o presidente da CE falava de medidas que vão tornar ainda mais duras e difíceis as condições de vida em 2013 da maioria dos portugueses, mas que estes ainda desconheciam. Barroso falou com o conhecimento e a concordância prévia de Passos Coelho? Ou disse, inadvertidamente, mais do que era suposto dizer? Em qualquer dos casos, o efeito foi, uma vez mais, o pior possível para a autoridade do Governo de Passos Coelho.
D epois da desgraçada gestão do dossiê TSU – em que se isolou politicamente, falhou na frieza da comunicação, não previu as reacções nem as consequências e se viu, por fim, obrigada a recuar em toda a linha – o Governo e Passos Coelho pareciam decididos a emendar a mão e a corrigir esses erros. Mostrando, além do pragmatismo de deixar cair a TSU, a intenção de dar maior importância à concertação social e ao consenso político alargado. Envolvendo mais os parceiros sociais, por um lado, e o PS, por outro, na discussão e elaboração das medidas de austeridade alternativas à TSU.
Afinal, tal como sucedera com a famigerada e defunta TSU, em relação à qual Passos Coelho ignorou os parceiros sociais e menosprezou o PS (avisado apenas uma hora antes do anúncio das medidas), a história voltou a repetir-se. O anúncio de Durão Barroso deixou a CIP, a CCP, a UGT e o PS incrédulos e de boca aberta, antes de Vítor Gaspar falar ao país.
Se a isto juntarmos o ressabiamento, em relação aos empresários e à queda da TSU, de Carlos Moedas, Passos Coelho, Jorge Braga de Macedo e António Borges, pode dizer-se que a comunicação e a coordenação política do Governo andam mesmo pelas ruas da amargura.
«SOL» de 5 Out 12

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