«Dito & Feito»
Por José António Lima
A CONVENÇÃO do Bloco de Esquerda do passado fim de semana assemelhou-se a
um insólito exercício de surrealismo político. Um partido que conta com
5,2% dos votos e o mais pequeno grupo parlamentar da AR ocupou grande
parte dos seus trabalhos a discutir se o PS terá ou não lugar num
Governo do Bloco e da Esquerda...
Eis o mundo e a política de pernas
para o ar. Depois, a Convenção decorreu sob o lema ‘Vencer a troika’ sem
que numa só intervenção se tenha percebido que generosos e simpáticos
credores propõe o Bloco em alternativa à troika ou a que filão
desconhecido pensa ir buscar os milhares de milhões de euros de que o
falido Estado português necessita, até pelo menos 2014, para pagar
salários, pensões e outras despesas básicas do tão incensado Estado
social. Finalmente, o Bloco aprovou um inusitado modelo de liderança
dupla, que já nos proporcionou algumas atrapalhadas e atropeladas
entrevistas a meias dos novos líderes.
João Semedo, um dos líderes
do dueto, fez voz grossa ao PS: «Enquanto António José Seguro tiver um
pé no memorando e outro na Oposição, é impossível a convergência para um
Governo de esquerda». O minoritário Daniel Oliveira contrapôs, com um
mínimo de bom senso e noção das realidades: «Não haverá Governo de
esquerda que exclua o PS». Mas logo surgiu o ortodoxo Fernando Rosas a
admoestar: «Haverá um Governo de esquerda, queira ou não queira o PS».
Tudo isto – para além do ridículo da desproporção entre os dois
partidos, BE e PS – faz lembrar a cantilena da ‘maioria de esquerda’ com
que Álvaro Cunhal e o PCP pensavam, há já 30 anos, converter o PS às
suas teses e interesses. Até hoje, o PS não se comoveu com esses cantos
de sereia. E já formou vários Governos.
Quanto ao lema ‘Vencer a
troika’, ele implica renunciar ao memorando que Portugal assinou. Isso
significa, por muito que o BE doure a pílula, renunciar à moeda única e
sair do euro. E a saída do euro equivaleria a uma drástica
desvalorização e marginalização da nossa economia, a um brutal e
repentino empobrecimento de todos os portugueses. Eis o caminho que o BE
nos propõe.
«SOL» de 16 Nov 12 Etiquetas: autor convidado, JAL
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