Os negócios não podem meter água
Por Ferreira Fernandes
RECEIO que não tenha sido só o negócio da TAP a gorar-se nos últimos dias, mas
também o da ilha do português Manuel.
Na semana passada, este pôs um
anúncio na Folha de São Paulo a vender a ilha de Monte Farinha, na Ria
de Aveiro, por oito milhões de euros. Meia página em jornal prestigiado é
caro (não foi, pois, brincadeira). O próprio jornal que publicou o
anúncio fez trabalho de casa, comparando a portuguesa com a mais famosa
ilha brasileira, Fernando Noronha (três vezes maior), enfim, seguiu a
pista porque uma ilha à venda faz brilhar os olhos em qualquer parte do
mundo. Só que uma ilha vendida por português incita à anedota: a notícia
era ilustrada por desenho de um portuga de fartos bigodes, com palmeira
e guarda-sol cravados em terra inundada. Segundo a Folha de São Paulo,
Monte Farinha inunda-se na maré-cheia (ou quase, fica 75 por cento
alagado). Não sei se assim é. Monte Farinha já teve criação de cavalos,
tem junco na terra e moliço nas águas mas não lhe conheço os efeitos da
maré.
Trago a história para crónica porque Portugal, injustamente ou
não, tem um problema de credibilidade. Se o anúncio fosse holandês, o
jornal até gabaria o jeito flamengo para diques; português, dá piada. É
verdade que boa parte disso é problema psicológico que os brasileiros
têm de resolver. O nosso problema, porém, mantém-se: não podemos dar a
abébias.
Negócios como os da TAP não podem esperar o último minuto para
surpresas. Ponto.
«DN» de 22 Dez 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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