29.1.13

Sei lá se é racismo? Sei, não é!

Por Ferreira Fernandes 
VAMOS lá à polémica de brancos parolos. 
Arménio Carlos disse: "Vêm aí outra vez os três reis magos: um do BCE, outro da CE e o mais escurinho, do FMI." Estalou a indignação: racismo! Ora racismo é generalizar uma condição negativa a um grupo ou povo. Sobre Obama, Berlusconi disse-o "bronzeado". Basta ver como Berluscuni cuida da sua tez para saber que "bronzeado" era elogio e, no entanto, alguns dos que defendem hoje o líder da CGTP não se privaram então de acusar o italiano de "racismo". 
É habitual que as culpas e as desculpas sejam deitadas segundo a conveniência. Carlos podia chamar "escurinho" a Selassie, como "bochechas" a Soares. Não será delicado sublinhar uma característica física de alguém, mas deixo isso para Paula Bobone. Carlos nem se equivocou chamando "negro" a Selassie: o termo negro é usado para os povos melano-africanos, a que não pertencem os etíopes. Abebe Selassie é o escurinho, como o outro da troika é o careca e nem sei a qual dos dois branquelas me refiro, confundo-os (daí a escolha do sindicalista em especificar Selassie, o mais nítido dos três). 
Polémica da tanga! Com 16 anos, amigos lançavam-me: "Branco!" E eu: "Preto!" Abraçávamo-nos e dizíamos isso baixo, porque podíamos fazer piada com tudo mas não com toda a gente. Mal seria que quase meio século depois não se pudesse dizer alto de alguém o tom de pele que eu, aliás, não me importava nada de ter. Conhecem quem vá de férias para ficar clarinho? 
 «DN» de 29 Jan 13

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