12.2.13

E se Bento XVI for para bispo do Porto?

Por Ferreira Fernandes
TEMPOS extraordinários, um Papa que se demite. Bento XVI falava num consistório que debatia mártires, muda de assunto, diz que não tem mais forças e que parte. Os jornalistas ouvem o latim, impávidos, exceto Giovanna Chirri, da agência italiana Ansa, que é vaticanista e percebe que ouviu o improvável. O Papa intransigente sobre a tradição acabava de renunciar ao ministério que, como o anterior Papa mostrara ao mundo, é para ser levado até ao fim. O Papa conservador e ideológico (certamente o mais cerebral e culto chefe de Estado contemporâneo) anuncia, suprema ironia, um ato revolucionário. O decano do Colégio dos Cardeais, Angelo Sodano, encontra a fórmula histórica para o impensável de ontem: "Este relâmpago num céu azul..." Horas depois, a agência EFE publica a foto de um raio que rasga o céu e se recolhe na cruz latina da cúpula de São Pedro. 
O último Papa que renunciou de livre vontade foi em 1294 o eremita Pietro Angeleri, S. Celestino V. Por tão insólita decisão, Dante mandou-o para o Inferno. A verdade é que o sucessor o prendeu numa masmorra, apesar dos seus 80 anos. 
Mais perto de nós, Gregório XII também se demitiu, em 1415, não tanto por vontade mas para garantir a unidade da Igreja, então disputada por dois antipapas. 
Último Papa que renunciou antes de ontem, Gregório XII foi nomeado, como consolação, bispo do Porto. 
O banal de uma história milenária é saltarem dela tantos factos fantásticos.
«DN» de 12 Fev 13

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