Quando abdicar é próprio dos fortes
Por Ferreira Fernandes
QUANDO um papa, de 85 anos, se sente sem forças e aponta para a sua renúncia,
eu não olho para o Anel do Pescador. Olho mesmo, como quando alguém
aponta a Lua, para a dimensão do facto. O mundo está demasiado perigoso
para que a Igreja Católica - demasiado importante, para além até dos
seus fiéis - continue a ser liderada por quem considera que as suas
próprias forças "devido à idade avançada, já não são idóneas".
Em 2005,
muitos católicos emprestaram à agonia de João Paulo II um significado
que eu não via: sentiam-no Cristo, humano e perplexo pelo abandono a que
o Pai o votava. Eu só via, respeitador, um velho admirável que morria.
Admito que fico mais tranquilo com a decisão de Bento XVI. Ele entendeu
as suas limitações: não posso, saio.
Quando isto se passa numa
instituição como a Igreja Católica e com a instituição que é o próprio
Papa (ele e a circunstância de séculos de outros papas) se calhar era
preciso um cerebral e um ideólogo como Bento XVI para tomar decisão tão
terra a terra. Percebo a cirurgia com que anunciou: "(...) pelo que, a
partir de 28 de fevereiro de 2013, às 20.00 horas, a sede de Roma ficará
vacante." Um intelectual não faz revoluções à marretada, mas de
bisturi.
Um líder não se agarrar ao exercício do seu poder quando já não
tem as condições físicas de o exercer pode ser um pequeno passo para
uma pequena empresa; acontecer com um papa é um grande salto para a
Humanidade.
«DN» de 13 Fev 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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