Luz - Linhas de caminho-de-ferro entre Santa Apolónia e a Gare do Oriente, Lisboa
Clicar na imagem para a ampliar
.
Sempre o caminho-de-ferro foi uma tentação ou uma singular atracção. Seja para passear e fugir, seja para viajar e conhecer, seja finalmente para fotografar. Já viajei em alguns dos mais famosos caminhos-de-ferro do mundo, mas ainda estou longe de os ter feito todos. Nunca fui no Transiberiano, nunca atravessei a Índia de comboio (velho sonho…), nunca viajei desta maneira na Ásia ou na África… Em Portugal, infelizmente, os comboios são pouco importantes, cada vez menos úteis e confortáveis, nada eficientes e pouco pontuais. O mais bonito de todos, o da linha do Douro, e seus afluentes, os das linhas do Sabor, do Tua, do Corgo e do Tâmega, foram miseravelmente condenados por uma poderosa aliança que envolveu automóveis, autocarros, burocratas, capitalistas, socialistas, ministros, funcionários, empreiteiros, construtores de estradas e viadutos… Nesta imagem, vêem-se algumas linhas perto da estação de Santa Apolónia. Duas senhoras da limpeza em primeiro plano. Ao fundo, à esquerda, funcionários ou técnicos da CP. À direita, depois de várias composições em repouso, pilhas de contentores nas docas do Poço do Bispo. Parece que “eles” querem acabar com a estação de Santa Apolónia. Vai tudo para Oriente. Parece um plano “racional” e “integrado”, como “eles” dizem, mas é simplesmente mais um passo na destruição lenta dos comboios e na redução dos caminhos-de-ferro à sua mais ínfima expressão. E é também, seguramente, o papel de embrulho de uma estúpida operação de especulação fundiária. O belo edifício de Santa Apolónia vai para “hotel de charme”, comércio de luxo, lojas “gourmet”, recordações “topo de gama”, um “condomínio fechado” e outras tolices. A ruína e o abandono esperam-nos a todos…
Etiquetas: AMB
1 Comments:
Um aspecto extraordinário que, só por si, dava uma beleza sem par aos Comboios de Portugal era a decoração a azulejos de tantos e tantos edifícios de um grande número de estações. Ainda restam maravilhas em azulejaria como a de S. Bento (no Porto) ou a de Aveiro, mas todas as outras, de traça antiga, fizeram sempre as minhas delícias, nas muitas horas que fiz de comboio: certa vez, numa viagem de Lisboa para o Porto, consegui convencer a companhia a viajarmos pela linha do oeste, numa viagem que demorou cerca de dez horas, que permitiram várias paragens demoradas numa data de estações e apeadeiros; e entre Castelo Branco e Sta Apolónia, contaria eu 12-13, anos fiz várias viagens, num e noutro sentido, sempre de pé, de nariz colado na janela, a admirar a beira-Tejo, com as suas barragens e o mítico castelo de Almourol. Mais (muito mais) recentemente, em sítios como Barca d'Alva fez-me pena ver o abandono das instalações dos edifícios da estação. E a diversos outros tinha ido, levado por uns cadernos há largos anos publicados pelo "Expresso", ver o que restava de muitas estações com azulejos belíssimos, nalguns casos submersos por vigorosos silvedos e noutros barbaramente destruídos por estúpidos que tentaram arrancar e roubar os azulejos à marretada. E tão estúpidos que em certos casos estragaram-nos praticamente todos, inutilmente, porque eles estavam mais bem colados do que muitos que hoje se desprendem de fachadas e interiores de prédios sem ninguém lhes tocar.
Uma tristeza, por muitos motivos.
Hoje gostamos todos muito de andar de carro nas estradas com portagens que mal conseguimos pagar...
Enviar um comentário
<< Home