4.10.15

Luz - Linhas de caminho-de-ferro entre Santa Apolónia e a Gare do Oriente, Lisboa


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Sempre o caminho-de-ferro foi uma tentação ou uma singular atracção. Seja para passear e fugir, seja para viajar e conhecer, seja finalmente para fotografar. Já viajei em alguns dos mais famosos caminhos-de-ferro do mundo, mas ainda estou longe de os ter feito todos. Nunca fui no Transiberiano, nunca atravessei a Índia de comboio (velho sonho…), nunca viajei desta maneira na Ásia ou na África… Em Portugal, infelizmente, os comboios são pouco importantes, cada vez menos úteis e confortáveis, nada eficientes e pouco pontuais. O mais bonito de todos, o da linha do Douro, e seus afluentes, os das linhas do Sabor, do Tua, do Corgo e do Tâmega, foram miseravelmente condenados por uma poderosa aliança que envolveu automóveis, autocarros, burocratas, capitalistas, socialistas, ministros, funcionários, empreiteiros, construtores de estradas e viadutos… Nesta imagem, vêem-se algumas linhas perto da estação de Santa Apolónia. Duas senhoras da limpeza em primeiro plano. Ao fundo, à esquerda, funcionários ou técnicos da CP. À direita, depois de várias composições em repouso, pilhas de contentores nas docas do Poço do Bispo. Parece que “eles” querem acabar com a estação de Santa Apolónia. Vai tudo para Oriente. Parece um plano “racional” e “integrado”, como “eles” dizem, mas é simplesmente mais um passo na destruição lenta dos comboios e na redução dos caminhos-de-ferro à sua mais ínfima expressão. E é também, seguramente, o papel de embrulho de uma estúpida operação de especulação fundiária. O belo edifício de Santa Apolónia vai para “hotel de charme”, comércio de luxo, lojas “gourmet”, recordações “topo de gama”, um “condomínio fechado” e outras tolices. A ruína e o abandono esperam-nos a todos…

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Um aspecto extraordinário que, só por si, dava uma beleza sem par aos Comboios de Portugal era a decoração a azulejos de tantos e tantos edifícios de um grande número de estações. Ainda restam maravilhas em azulejaria como a de S. Bento (no Porto) ou a de Aveiro, mas todas as outras, de traça antiga, fizeram sempre as minhas delícias, nas muitas horas que fiz de comboio: certa vez, numa viagem de Lisboa para o Porto, consegui convencer a companhia a viajarmos pela linha do oeste, numa viagem que demorou cerca de dez horas, que permitiram várias paragens demoradas numa data de estações e apeadeiros; e entre Castelo Branco e Sta Apolónia, contaria eu 12-13, anos fiz várias viagens, num e noutro sentido, sempre de pé, de nariz colado na janela, a admirar a beira-Tejo, com as suas barragens e o mítico castelo de Almourol. Mais (muito mais) recentemente, em sítios como Barca d'Alva fez-me pena ver o abandono das instalações dos edifícios da estação. E a diversos outros tinha ido, levado por uns cadernos há largos anos publicados pelo "Expresso", ver o que restava de muitas estações com azulejos belíssimos, nalguns casos submersos por vigorosos silvedos e noutros barbaramente destruídos por estúpidos que tentaram arrancar e roubar os azulejos à marretada. E tão estúpidos que em certos casos estragaram-nos praticamente todos, inutilmente, porque eles estavam mais bem colados do que muitos que hoje se desprendem de fachadas e interiores de prédios sem ninguém lhes tocar.
Uma tristeza, por muitos motivos.
Hoje gostamos todos muito de andar de carro nas estradas com portagens que mal conseguimos pagar...

5 de outubro de 2015 às 00:18  

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