OS OBREIROS DA GEOLOGIA PORTUGUESA (2)
Por A. M. Galopim de Carvalho
Wilhelm Ludwig von Eschweg (1777-1855)
Também conhecido por Barão de
Eschwege, engenheiro de minas, geólogo, geógrafo, metalurgista e
arquitecto de nacionalidade alemã, deixou obra de nomeada em Portugal e no
Brasil. Detentor de formação académica de invulgar eclectismo, muito em moda na
intelectualidade europeia do século XIX, os seus conhecimentos alargaram-se ao
direito, à economia política, à geografia, à silvicultura e à arquitectura
paisagista.
Contratado pela Coroa portuguesa para proceder a prospecções mineiras no
país, acabou por assumir o cargo de Intendente-geral de Minas e Metais do
Reino, sucedendo a José Bonifácio de Andrade e Silva. Como tal, Eschweg
administrou a mina de ouro da Adiça (Mina do Príncipe Regente, Almada) e
percorreu o país e parte das colónias, com vista ao estudo das respectivas
potencialidades mineiras e das técnicas de exploração e administração desse
sector de uma actividade económica nascente. No decurso deste seu trabalho,
recolheu informação geológica e paleontológica de grande importância na época.
Em 1810, juntou-se à Coroa, entretanto sediada no Brasil, tendo
procedido, em moldes científicos inovadores, à primeira exploração geológica
naquela vastíssimo território, inovando a uma elevada craveira, que fez
história, a exploração mineira e a metalurgia. Nesta colónia, Eschweg
desempenhou os cargos de Intendente das Minas de Ouro, de Curador do Real
Gabinete de Mineralogia do Rio de Janeiro e de professor de Engenharia Mineira,
de reconhecido prestígio, na Academia Militar das Agulhas Negras, (a
primeira escola de engenharia no Brasil) tendo aí incrementado, ao mais alto
nível, o ensino da matemática e da física.
Durante a sua estadia em Portugal, Eschwege catalogou inúmeros aspectos
da mineralogia e da geologia portuguesas, tendo publicado diversas obras de
carácter científico, com destaque para “Memória Geognostica ou golpe de vista do perfil das
estratificações das differentes róchas, de que he composto o terreno desde a
Serra de Cintra na linha de noroeste a sudoeste até Lisboa, atravessando o Tejo
até á Serra da Arrabida, e sobre a sua idade relativa”, publicada no Tomo
XI da Academia Real das Ciências de Lisboa, em 1831.
Como arquitecto, o seu nome ficou ligado ao projecto do Palácio Nacional da Pena, na Serra de Sintra, que teve a seu cuidado, a
convite de D. Fernando de
Saxe-Coburgo-Gota, marido da rainha
D. Maria II.
Alexandre António Vandelli (1784-1862)
Nos Aditamentos ou Notas que escreveu em alusão à Memória
Geognostica, de Eschwege, 1831, este lusobrasileiro, filho de
Domingos Vandelli revela o que, ao tempo, se fazia em Portugal no domínio da
mineralogia, da geologia e da paleontologia, dando, assim, satisfação a um
pedido do Barão, entretento regressado à Alemanha, por ter sido demitido por D.
Miguel do cargo de Intendente Geral de Minas e Metais do Reino, em Junho de
1829,
Nestes seus escritos,
Alexandre Vandelli, que é considerado o iniciador da paleontologia dos vertebrados em Portugal, fala, em
especial, dos “terrenos primitivos” da Serra de Sintra (granito e outras rochas
ígneas); da “formação secundária” (calcários, grés, argilas, etc. do Jurássico
e do Cretácico) que a rodeiam, e dos basaltos aflorantes em muitos locais da
região de Lisboa. Dá particular atenção às “petrificações”, com destaque para
as conchas e restos de Gryphites,
Coralites e Hippurites (rudistas)
em calcários da “formação secundária”; às encontradas na “formação terciária” a
norte e a sul do Tejo, nomeadamente, conchas de Turritellas, Terebratulas, Belemnites, Helices, Melanamonas, Cardias,
Orthoceras, Encrinites, etc.), alternado com bancos de ostras, e, ainda,
aos dentes de esqualos, restos de vértebras de peixes e um crâneo de um
provável cetáceo.
Daniel Sharpe (1806-1856)
Comerciante inglês, com negócios em Portugal, grandemente interessado
nas ciências da Terra, foi um dos pioneiros da cartografia geológica
portuguesa, ao publicar, em 1841, a primeira carta geológica dos arredores de
Lisboa, em complemento do trabalho The
Geology of neighbourhood of Lisbon e, em 1849, a primeira carta geológica
dos arredores do Porto. Estudou em pormenor o Silúrico e o Carbónico do Buçaco
e descreveu fósseis de São Pedro da Cova, de Valongo e
das formações mesozóicas a norte do Tejo, tendo descrito diversas espécies
novas para a ciência. Foi um dos precursores da geologia estrutural ao defender
que a direcção dos esforços compressivos responsáveis pelos enrugamentos
tectónicos é perpendiculares aos planos de clivagem. Conheceu Carlos Ribeiro (1813-1882),
estabelecendo com ele uma frutuosa relação que criou as bases da estratigrafia portuguesa.
*
Bernardino António Gomes (1806-1877)
Pioneiro da
paleobotânica em Portugal, é, sobretudo, lembrado como médico e botânico de
grande prestígio. O seu trabalho no
estudo da flora fóssil ficou perpetuado na publicação “Vegetais Fósseis: Flora fóssil do
terreno carbonífero das vizinhanças do Porto, Serra do Buçaco, e Moinho da
’Ordem próximo a Alcácer do Sal”, editada
em 1865, e marcou o início da paleobotânica em Portugal.
Na sequência da
Revolução Liberal de 1834, a reforma do ensino de Passos Manuel extinguiu o
Colégio dos Nobres, em Lisboa, dando nascimento, em 1837, à Escola Politécnica
(devidamente equipada com os seus estabelecimentos anexos, entre os quais o
antigo Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico), onde passou a haver, de
facto, o ensino da Mineralogia em simultâneo com o da Geologia. As colecções
mineralógicas do antigo Colégio dos Nobres, bem como as da Academia Real das
Ciências, do Real Museu da Ajuda e da Intendência Geral de Minas e Metais do
Reino, uma vez reunidas, passaram a constituir o importante acervo da Escola
Politécnica, sendo hoje parte integrante do Museu Nacional de História Natural
e da Ciência. Estas colecções cresceram bastante em virtude de colheitas
sistemáticas no continente e nas então colónias, no decurso das chamadas
“viagens filosóficas”.
No Porto, a então
Academia de Marinha e Comércio deu lugar à Academia Politécnica, onde a
Mineralogia e a Geologia, tiveram lugar de destaque, constituindo-se aí o que
poderíamos definir como o embrião da engenharia mineira portuense.
Para além dos
estabelecimentos de ensino superior que serviram de base às actuais Faculdades
de Ciências de Lisboa, Porto e Coimbra e dos então Instituto Industrial do
Porto (o actual Instituto Superior de Engenharia do Porto) e Instituto
Industrial e Comercial de Lisboa (o actual Instituto Superior Técnico), merece
destaque, como instituição responsável pelo desenvolvimento da Mineralogia e da
Geologia portuguesas, a Comissão Geológica do Reino, criada em 1857, embrião do
actual Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), última das múltiplas
designações oficiais desta prestigiada instituição, a saber:
Comissão Geológica
do Reino, de 1857 a 1869; Secção dos
Trabalhos Geológicos, de 1869 a 1886;
Comissão dos Trabalhos Geológicos, de 1886 a 1882; Direcção dos Trabalhos Geológicos, de 1882 a1899; Direcção dos Serviços Geológicos, de
1899 a 1901; Comissão dos Serviços
Geológicos, de 1901 a 1917; Serviços
Geológicos de Portugal, de 1917 a 1993; Instituto
Geológico e Mineiro (IGM), de 1993 a 2002;
Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial (INETI), de 2003 a
2007; e, finalmente, Laboratório
Nacional de Energia e Geologia (LNEG), de 2007 ao presente.
Oswald Heer (1809-1883)
Doutor em medicina, este eclesiástico suíço, professor na Universidade
de Zurique, foi botânico e paleobotânico de muito mérito, lembrado como um
pioneiro neste domínio. Deixou obra importante sobre a flora fóssil do Terciário
da Suíça, da Groenlândia e de Portugal, num trabalho que publicou em 1881, sob
o título Contributions à la flore fossile
du Portugal, numa edição da Secção dos Trabalhos Geológicos de Portugal.
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1 Comments:
Medinamigo
Que me perdoe o Galopim, mas JÁ ACABOU O DIA DE REFLEXÃO!!! (00:27) Vou VOTAR COSTA!!!
Abç do Leãozão
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