Moçambique: o gás e a riqueza
Por Antunes Ferreira
Moçambique tem
potencial para ser um dos maiores produtores mundiais de gás. «As riquezas e as
oportunidades são tantas que podem transformar Moçambique num dos países mais
ricos do Mundo», afirmou o senhor Ken
McLennan, escocês representante em Moçambique da Wood Group PSN num colóquio do sector petrolífero e gás da Escócia.
A notícia apanhou de
calças na mão o Mundo? Não, não apanhou; isto porque já se suspeitava da
situação e os rumores já corriam nos bastidores dos especialistas em energia;
Porém o caso estava bem guardado no palácio da Ponte Vermelha que é a
residência oficial do Presidente de Moçambique. Os olhos gulosos dos tubarões ou
dos poderosos dirigentes das grandes multinacionais coincidiam com o afiar dos
dentes. Qualquer delas começou a mexer os cordelinhos na ânsia de apanhar a pole position dessa corrida para a meta
desejada.
Como é sabido o país
continua a ser considerado um dos mais pobres e subdesenvolvidos do mundo. Os
países doadores são considerados em Maputo como os “salvadores da Pária”
expressão que demonstra bem o que ali se passa em termos económicos e
financeiros. As ajudas de entidades oficiais são também uma razão de peso a
demonstrar a debilidade do país. Mas se for possível ganhar uns trocos,
abençoadas doações
No entretanto, em 2007,
o Banco Mundial falou sobre o
"ritmo de crescimento económico inflado" de Moçambique e um estudo
conjunto do governo e de doadores internacionais afirmou que "Moçambique é
geralmente considerado como uma história de sucesso na ajuda humanitária".
Também em 2007, o Fundo Monetário Internacional (FMI) disse que "Moçambique é uma
história de sucesso na África subsaariana."
São conhecidas as estórias das “histórias de sucesso” que normalmente
provêem dos interessados em aproveitar o que melhor têm os países assim
qualificados. Porém o reverso da moeda caiu um tanto desanimador. O próprio
Banco Mundial acolitado pela UNICEF, utilizaram o termo “paradoxo” ao
descreverem o aumento da desnutrição infantil crónica perante o crescimento médio
do PIB moçambicano. Entre 1994 e 2006, ele atingiu aproximadamente um crescimento médio do foi de aproximadamente 8%
ao ano, e no entanto, o país continua paupérrimo. Num inquérito que decorreu em
2006, três quartos dos moçambicanos afirmaram que nos últimos cinco anos a sua
situação económica estagnou ou tornou-se pior.
É este país, antiga
colónia portuguesa, que parece acordar do pesadelo da pobreza. E ninguém
conhece alguém que enriqueça a trabalhar… Mas isto leva o seu tempo e os
moçambicanos estão fartos do “ouvi dizer” e de promessas. As terríveis
inundações que mais ou menos regularmente dão cabo das terras cultivadas, são
mais uma bandarilha cravada pelo desalento. Recorde-se que a agricultura é a
principal produção do terciário. Estão “habituados” a que lhes prometam que as
catástrofes serão erradicadas e que a guerra interna vai acabar; mas, quando?
No mencionado colóquio
sobre petróleo e gás, o escocês McLennan ainda sublinhou que «A Escócia tem um
largo know how e não pode perder a
oportunidade de marcar presença em Moçambique, onde as reservas de gás são
astronómicas e estão ainda por ser exploradas», e ainda frisou que «o Governo
de Moçambique tem o cuidado de defenderr um papel importante por parte das
empresas e populações locais».
Os números avançados no colóquio foram impressionantes: as maiores empresas mundiais petrolíferas e de extracção de gás já têm planos para investir o equivalente a 120 mil milhões de euros na prospecção de novas reservas, que se acredita terem a capacidade de 170 triliões de metros cúbicos de gás, especialmente na bacia do rio Rovuma. Quando se começar a extrair e comercializar o gás, o mercado da energia verá surgir um verdadeiro terramoto.
Os números avançados no colóquio foram impressionantes: as maiores empresas mundiais petrolíferas e de extracção de gás já têm planos para investir o equivalente a 120 mil milhões de euros na prospecção de novas reservas, que se acredita terem a capacidade de 170 triliões de metros cúbicos de gás, especialmente na bacia do rio Rovuma. Quando se começar a extrair e comercializar o gás, o mercado da energia verá surgir um verdadeiro terramoto.
Umas perguntas se
perfilam: serão os moçambicanos que vão gozar desse imenso tesouro? Será que se
está perante a caverna que Ali Babá descobriu? Será que o “abre-te Sésamo”
exibirá as riquezas enormes do país? Por enquanto tudo faz pensar que se trata
de um sonho cor-de-rosa que cheira a gás. Porém as finanças e a economia não
vivem de sonhos, vivem (e convivem com os grandes detentores do dinheiro – que
não tem cheiro.
Não acredito em
profetas ou profetizas nem sequer naquela de Delfos que tirava dos fumos do
enxofre que por ali abundava. Quanto a previsões lembro-me sempre do João Pinto
do Futebol Clube do Porto: «Previsões? Só quando terminar o jogo…» Ainda que
tenha havido um filme português com o título de «Sonhar é fácil» realizado pelo
falecido Perdigão Queiroga em 1957, tudo indica neste caso do gás em Moçambique
que mau será o sonho se se tornar em pesadelo…
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