A Justiça e a violência sobre a mulher
«Medusa no Palácio da Justiça ou Uma História da Violência Sexual» é um livro que a prestigiada chancela Tinta da China editou, da autoria da socióloga Isabel Ventura.
O DN, segunda-feira, referiu a história jurídico-legal da violação em Portugal, desde o séc. XIX até à atualidade, e termina com a entrevista da jornalista Rute Coelho à autora.
Quem lê os excertos de acórdãos sobre a violação de mulheres fica estarrecido, e há de julgar os juízes pessoas sem o mínimo senso e humanidade. Dão azo a generalizações abusivas contra os Tribunais, exacerbadas pela comunicação social e estimuladas pelos politizados líderes dos sindicatos de magistrados.
Para além do interesse que as duas páginas do DN (10 e 11) despertam para a leitura do livro e da incerteza sobre a bondade da sugestão da autora para a criação de «tribunais especializados em crime violento», há uma reflexão e uma pedagogia a fazer.
O problema não reside nos juízes, ou nos magistrados do MP, nem na falta de tribunais especializados. Uma condenação justa é sempre importante para a vítima, mas pode ser irrelevante numa sociedade que a considere injusta e, pelo contrário, veja com agrado e boçal compreensão uma decisão infame contra a mulher.
Nem o facto de os Tribunais estarem cada vez mais femininos nos tranquiliza quanto às decisões e, muito menos, quanto à perceção da opinião pública. Os juízes, para lá da sua competência técnica, são o produto da sociedade em que estão inseridos. Não podem ser diferentes de outros cidadãos com equivalente cultura e formação académica.
O problema reside na lentidão com que a sociedade patriarcal tradicional, preservada na ditadura, se transforma numa outra, onde a igualdade de género é assimilada como parte inalienável dos Direitos Humanos.
Enquanto, ao arrepio da lei, o homem for considerado chefe de família, beneficiar de vencimentos mais elevados, for privilegiado na divisão das tarefas domésticas e ocupar os mais altos cargos na política, magistratura, direção de empresas, universidades e em todos os centros do poder, terá a última palavra nas decisões e fará com que as mulheres que ascendam por competência, mas em minoria, a esses cargos, tenham no poder iguais manifestações masculinas, num mimetismo perverso que adia a igualdade plena.
Se a alteração de paradigmas fosse simples, a sharia há muito que teria sido abolida e os brutos seriam apenas uma reserva zoológica de sociedades teocráticas e tribais.
Sem o contributo empenhado das escolas, famílias e legisladores, sem constrangimentos sociais para o machismo, sem a luta de mulheres e homens, a mulher sofrerá, de forma mais ou menos dissimulada, o doloroso ónus da sua condição.
Ponte Europa / SorumbáticoEtiquetas: CBE
4 Comments:
Este comentário foi removido pelo autor.
O CBE tem toda a razào,quando conclui,que só o contributo,das escolas,familias e legisladores podem terminar com a desumana segregação contra as mulheres Enquanto os homens ocuparem maioritariamente os principais cargos nos mais altos poderes,a mulher continuará a não beneficiar da igualdade de oportunidadesJá se percorreu um longo caminho,mas muito há ainda para caminhar A maior e mais difícil luta é pela mudança de mentalidades
Quotas 50%/50% acho bem. O pior seriam as listas de milhões de anos de espera no SNS para os que precisam de ser operados por uma Mulher aos testículos, ânus, coração, pulmões, cérebro, etc. Na informática, tudo parava. E já agora nas obras, nas minas, na pesca, etc.
Acho estranho que queiram o Homem cordeirinho! Preocupante "no bom sentido" é terem-se gasto em Viagra 27 M€ em 2017.
Tanta demagogia que grassa em muitas cabeças!
QQ dia corta-me o pio. Bajulação, Não!
Cumps.
...e,tanta confusão que grassa em tantas cabeças ! Não há dúvida!É difícil mudar as mentalidades
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