20.6.19

A Síria e o ataque a navios petroleiros

Por C. Barroco Esperança
O ataque recente a dois navios, no Golfo do Omã, quando os preços do petróleo estavam em forte queda, foram logo atribuídos ao Irão, pela Arábia Saudita e EUA.

As suspeitas sobre as informações, americanas ou iranianas, para analisar o vídeo tosco divulgado por Washington não permitem conclusões definitivas, e a credibilidade da administração Trump e do príncipe-herdeiro de Riad não supera a dos aiatolas iranianos.
O ataque a alvos comerciais, agravado pelo local onde ocorreu, é demasiado grave para ser minimizado, e os interesses geoestratégicos fazem da contrainformação a arma que, nestas circunstâncias, atinge a verdade e a transforma em vítima predileta.
Qualquer das partes é suspeita, mas se analisarmos qual o país mais prejudicado, logo se conclui que é o Irão, aliás, vítima do violento boicote dos EUA e da renúncia unilateral de Trump ao tratado nuclear, que os aiatolas estavam a respeitar, não surpreendendo que o ataque aos petroleiros faça parte da política de preços dos combustíveis fósseis e seja um pretexto para aumentar a pressão sobre o Irão e, quiçá, para a sua invasão.
Quando se fala em terrorismo, hoje hegemonicamente de natureza islâmica, não se deve esquecer que a Al-Qaeda foi criada pela CIA nos finais dos anos 80 do século passado, como instrumento da guerra contra a URSS, que invadira o Afeganistão em 1979 e saiu vencida 10 anos depois, com soldados serrados vivos e imensas baixas. Com a invasão posterior dos EUA, foram soldados americanos os vencidos, pelas suas criaturas, com a mesma crueldade e igual desinteresse mediático, no mesmo espaço tribal.
Na segunda metade da primeira década deste século e milénio, um anódino pregador, que viria a adotar o nome de Abu Bakr al-Baghdadi, foi libertado do campo americano de prisioneiros, Camp Bucca, e, com o provável apoio do antigo coronel dos serviços secretos iraquianos de espionagem, Haji Bakr, chegou à liderança do Daesh, que, com a ajuda de militares altamente treinados, se transformou no tenebroso e eficiente Estado Islâmico que, tal como a Hidra de Lerna, renasce e floresce depois de cada derrota e representa hoje uma séria ameaça para a Rússia, disseminado pela Ásia Central onde regressaram muitos dos seus operacionais que combateram na Síria.
A tradição americana na organização de grupos terroristas, de que acaba por ser também vítima, e a sua cumplicidade com Israel e o despotismo cruel da Arábia Saudita, são matéria de reflexão para a análise da política errática e perigosa dos EUA.
Quanto ao ataque aos petroleiros não será fácil descobrir os autores em tempo útil.
Entretanto, perante o relativo silêncio sobre o incidente já se ouve o ruído dos reatores a enriquecerem o urânio para a reativação do programa nuclear iraniano.

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1 Comments:

Blogger opjj said...

O boicote prejudica o Irão. Também prejudicava o Iraque e o filho do Sadam tinha mais de 900 carros de última gama. Neste rol podemos incluir Angola,Venezuela etc.

21 de junho de 2019 às 19:04  

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