14.2.20

A Vida é que é uma gaita

Por Joaquim Letria
Há anos que eu pensava que semelhante coisa tinha deixado de existir. Mas não! Está viva e praticada, pelo que posso observar e concluir: as cartas anónimas continuam vivinhas da costa!
Vem este comentário a propósito duma folha sem sobrescrito e por assinar que meteram na minha caixa do correio, denunciando o meu jardineiro duma falsidade e acusando-o daquilo que não cometeu. Quem assim procede não bate à porta nem conversa, ou espera pelo acusado e protesta para se esclarecer. Não senhor! Diz ao patrão do visado que o acusado “é aldrabão”, incompetente e comete dislates que, imagino eu, quer que eu puna, possivelmente despedindo o suposto prevaricador.
A questão não se fica por a acusação ser falsa e sem sentido. A questão só é importante por Portugal continuar a albergar a delação. Ultimamente não é só albergar a denúncia. É desejar-se, ao mais alto nível, que ela seja premiada! 
O alcance da denúncia não tem limites. Claro que me denunciam o meu jardineiro para que eu o puna, quiçá o despeça. Mas quem faz isto certamente que se vira para outro auditório e acusa o patrão do jardineiro. Podemos ficar numa conversa de rua, mas sabemos que não é assim que as coisas sucedem. Escreve-se uma folha anónima para que o patrão puna o trabalhador. Mas para além da conversa de rua, escreve-se uma carta à Câmara Municipal para que multe o suposto responsável, o patrão do prevaricador, o munícipe.
Antigamente era bonito que um homem não falasse nem nos interrogatórios da polícia. Por mais duma vez não fui preso porque os meus camaradas não denunciaram ninguém. Claro que havia gente que sob tortura não resistia a confessar o que fizera e quem o ajudara. Tenho um grande amigo que torturado, sem dormir e em pé quase duas semanas, e preso em isolamento por mais de seis meses resistiu a tudo isso e não meteu ninguém dos seus na cadeia. Ele explicava aos polícias que o interrogavam: ”não posso falar. Se falo, os meus amigos nunca mais me dirigem a palavra e eu fico envergonhado se os encontro na rua”.
Hoje, aquilo que governantes, juízes e polícias querem é dar um prémio a um denunciante. Mesmo que a denúncia se venha a verificar ser falsa. “Falas, ganhas qualquer coisa”. Pelo que vou conhecendo daquilo que a vida nos ensina, há mais seriedade nos ladrões, que têm um código de honra, do que em muitos polícias. É tipo “tu falas e eu escuso de investigar”. Melhor ainda: “Tu dizes o que te vou ensinar e estás safo”. Claro que não se pode generalizar. Há magistrados muito sérios e muitos polícias impolutos. Mas a vida, meus amigos, é que é uma gaita!
Publicado no "Minho Digital"

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1 Comments:

Blogger Unknown said...

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