Os bancos e a crise financeira de 2008
Por C. B. Esperança
É fácil acusar de incompetência e desonestidade quem geria os bancos em 2008, difícil é prever que as desonestidades, sem a crise do sistema financeiro, fossem descobertas, e é improvável que todos os gestores fossem corruptos e inaptos, ou que houvesse outros capazes de fazerem melhor.
A luta partidária, a inveja e a ânsia de acusar os poderosos subverteu a análise serena da crise financeira a que a falência de Lehman Brothers Holdings Inc. deu início.
Sem negar a corrupção que grassa onde o dinheiro é muito, a falência referida foi menos a causa do que o efeito de uma crise cíclica do capitalismo, a nível global, refreada com as emissões gigantescas de moeda pelos bancos centrais.
As acusações aos governos de turno, sobretudo nos países de economias mais débeis, e o julgamento de subornos, engenharias financeiras e apropriações indevidas de dinheiro, de alguns milhões de €€, escondem os malefícios da crise e biliões que a crise engoliu.
Sem minimizar a necessidade de julgar os crimes descobertos, é ingenuidade silenciar os malefícios do sistema capitalista, ainda que se desconheça outro melhor.
Os gestores, habituados a gerir em tempos de normalidade, deram lugar a outros que os não sabiam gerir melhor.
Há perversões de que o sistema ainda não prescindiu, os paraísos fiscais a que, aliás, era possível pôr cobro, se os governos dos países mais poderosos não carecessem de ocultar verbas para promover contrarrevoluções, recrutar espiões e pagar material de guerra, os canais por onde também passam o dinheiro da droga, do tráfico de órgãos e de pessoas.
A nível nacional, os Papéis do Panamá revelam os interesses que impedem a divulgação e investigação. Caíram no esquecimento, enquanto decorria o espetáculo de julgamentos populares de comparsas menores, onde o próprio ex-banqueiro Ricardo Salgado é uma figura menor da corrupção internacional.
Pode haver quem veja nesta reflexão uma tentativa de branquear os eventuais crimes de cidadãos que só foram julgados nos média e nas redes sociais, mas é um grito de revolta contra um sistema de que desconheço a alternativa e cuja maldade é evidente.
Quanto aos bancos, restam poucas dúvidas de que o princípio dos vasos comunicantes, participações cruzadas e interdependência, são um puzzle que se destrói com a queda de um qualquer, num imparável efeito dominó.
O excesso de mediatismo das situações individuais serve apenas para ocultar o barril de pólvora que o sistema capitalista representa e que a cada momento pode explodir.
Espero que as reflexões de um leigo possam ser desmentidas, não pelos ‘tudólogos’ que alimentam os comentários televisivos e radiofónicos, mas por macroeconomistas que se dedicam à investigação do sistema financeiro internacional.
Estamos numa crise bem mais avassaladora do que a de 2008, sem fim à vista, e outras virão.
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