22.10.20

Discorrendo ao correr das teclas

Por C. Barroco Esperança

Enquanto a depressão Bárbara despejava torrentes de água, que era uma bênção guardar, e o vento despia as árvores de folha caduca, partia ramos e arrancava caleiras, observei os 30 minutos de ruído televisivo dos noticiários do almoço e do jantar na RTP-1.

Dou por mim a pensar que ultrapassei o prazo de validade, que as notícias, salvo as que se referem à Covid-19, sem necessidade de serem servidas em doses tóxicas, não se ajustam aos meus interesses e expetativas.

Valem-me os jornais, um impresso e os outros virtuais, estes a deixarem ler o suficiente para saber o que ocorre no mundo, para compensarem a pobreza da informação do canal público e a desadequação à minha hierarquia de exigências.

Até a linguagem é pobre, com uma economia vocabular confrangedora para quem gosta da língua que se habituou a amar em Vieira, Garret, Camilo, Aquilino e Saramago. 

Há tempos, o adjetivo ‘complicado’ variava em género e número para qualificar as mais diversas situações ou incidentes. Agora usa-se o verbo arrasar, conjugado nas terceiras pessoas, em todos os tempos e modos, e o adjetivo arrasador, para destruir a decisão que desapraz e, em tempo de pandemia, o adjetivo ‘viral’ para qualificar as proliferações de referências sobre o mesmo tema. 

O estilo da competição desportiva pauta a informação. Cada novo máximo de mortes ou de infetados, de doentes nos cuidados intensivos ou de focos de infeção, é anunciado no tom eufórico de quem proclama a vitória da seleção de futebol, em todos os noticiários. 

Os assuntos novos são gritados como descoberta jornalística, a cave inundada, o número de chamadas para bombeiros, o desabamento de terras, as confusões de trânsito. Há, na comunicação, a excitação da novidade por cada situação habitual, quer sejam incêndios, inundações ou desastres, na mórbida fruição de desgraças.


A diversidade é feita com bastonários em campanha contra o Governo e comentadores a preverem desastres em tempo de pandemia. As desgraças vêm sempre, só não sabemos quando, e, nestes tempos, é fácil antecipá-las. 

Há caras que, à força de repetidas, criam repulsa e, na minha idade, depois de ouvir com atenção as recomendações sanitárias, considero incluída a pressão no botão que desliga a televisão. O cumprimento das medidas sanitárias é uma obrigação cívica. 

E fico a pensar nos riscos do eventual chumbo do OE-2021, com a guerrilha partidária contaminada pela contabilidade das eleições presidenciais, a recorrer à chantagem e a ameaçar o caos.

Ponte EuropaSorumbático

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4 Comments:

Blogger opjj said...

Comungo das suas observações, mas ;
1- Orçamento sem aprovação o país continua.
2 - Guerra partidária,é normal.
3 - Eu não posso ouvir o governo e principalmente Costa.
4- Ouvi o discurso de RIO e apesar de nem sempre concordar com ele, ele faz um diagnóstico correcto da situação.
Só uma vez ouvi pronunciar o nome de Costa, ao contrário do que faz Costa.
Meu caro, isto está péssimo, excepto para os que têm o Estado por trás.
Costa é o pior 1º ministro que Portugal teve.
Cumps.

22 de outubro de 2020 às 19:33  
Blogger opjj said...

V.Exª opina esmagando os que têm opiniões diferentes das suas e desde que diga bem do governo está a salvo, eu que manifesto não acreditar neste governo recebo uma mensagem a intimidar-me.
Eu que fui dentro pela Pide concluo que as liberdades estão em perigo.
Os meus cumps.

22 de outubro de 2020 às 19:57  
Blogger Carlos Esperança said...

OPJJ:

Como se conclui pela oportuna informação de ter sido preso pela PIDE, esta era muito estúpida como, aliás, o fascismo e todos os extremismos. Saudações democráticas CA

26 de outubro de 2020 às 16:22  
Blogger opjj said...

Exmo Senhor a única coisa que temos em comum é que ( parece-me que teve na guerra colonial em Moçambique na mesma altura)
Esta será a última vez que me dirijo à sua pessoa porque a acho tão ou mais perigosa que a PIDE.
Factos. Quando participava numa das manifestações, a polícia interviu e na debandada entrei num café em entre-campos (Granfina),senti nas minhas costas sobre o pulmão direito uma pistola, cale-se e siga-me. Fixei o PIDE, era ruivo. Mais tarde no Saldanha após a revolução enfrentei-o e fugiu.Sofri imenso. Minha mulher estava em vésperas de dar à luz.O meu advogado já falecido era bem conhecido.

26 de outubro de 2020 às 19:00  

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