30.10.20

Retrato da Capital do Império

Por Joaquim Letria

Fernando Medina herdou a presidência da Câmara de Lisboa de António Costa. Desde então o seu mandato tem sido fazer obras e criar situações que constrangem os Lisboetas e os deixam com mais dificuldades das que já tinham.

Enumeremos apenas algumas para os que não habitam na capital percebam do que estou a falar. Por exemplo, fazer longas e demoradas obras na vital segunda circular que deixaram os lisboetas numa aguda crise de nervos. Reduzir o número de faixas na Avenida Almirante Reis para se demorar o triplo do tempo a percorrê-la para cima e para baixo. Roubar faixas de circulação a muitas ruas que passaram a dispor de largos passeios onde nos podemos sentar em amplas esplanadas debruadas a ciclovias sem bicicletas, exterminando lugares de estacionamento e inventando distantes parques de estacionamento subterrâneos, etc..

A última coroa de glória de Medina foi afundar a Praça de Espanha fazendo abater o túnel de Metropolitano que há mais de 50 circulava entre o Marquês Pombal e aquela Praça onde estava o Teatro Aberto e agora vai ser mais um jardim que concorrerá com os belos jardins da Fundação e Museu Gulbenkian, deixando a ilustre e fronteira Embaixada de Espanha implantada num ambiente quase rural.

Não quero dizer mal de Medina. Deixei de morar em Lisboa ainda ele era só vereador. Nem o critico, é compreensível que um natural do Porto tenha esta visão de Lisboa. A minha cidade é que nas mãos dele está cada vez mais bonita ao longe e insuportável para quem lá tem de ir. Saudades de Presidentes da Câmara de Lisboa tenho-as, sim, mas do General França Borges, dos Engºs Santos e Castro e Nuno Abecassis. O resto prefiro esquecer.

Algo de bonito que o Medina poderia fazer seria reconstruir o Bairro do Ferro, em São Vicente, padroeiro da cidade de Lisboa. Mas isso nem eu nem as centenas de habitantes que ali vivem no meio de escombros, casas por acabar umas, ardidas outras, sem saneamento básico nem água potável acreditamos que ele faça nos intervalos dos comentários políticos na TVI onde discretamente vai fazendo a sua campanha eleitoral.

Os moradores do Bairro da Quinta do Ferro lá sobrevivem nas piores condições. Para que os leitores melhor compreendam a situação de que falo, mulheres, homens e crianças do Bairro da Quinta do Ferro, no centro de Lisboa, capital europeia, desenrascam-se no dia a dia como calculam que alguém se pode desenrascar a viver assim. E para não perderem a dignidade e andarem limpinhos lá vão lavar-se e tomar banho nos balneários da Voz do Operário.

Desde 2016 que está parado na autarquia um projecto para a construção de 140 fogos municipais, um jardim inter-geracional e um parque de estacionamento subterrâneo na Quinta do Ferro. Só deve faltar o Medina decidir onde passa a ciclovia…

Publicado no Minho Digital

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2 Comments:

Blogger opjj said...

Concordo em absoluto. Há excesso de pilaretes a reduzir as vias que até confundem os automobilistas.Ciclovias saturadas com tantas bicicletas? Deve ser a pensar na polícia para prescindir do pópó copiando polícias doutros países que têm climas destemperados.
Acrescento o desprezo pelas quintas das Conchas e dos Lilases em que as passadeiras de madeira estão em péssimo estado dando origem a tropeções em que as pessoas torcem pés e pernas. Só há dinheiro para obras de milhões. Tostões nada.
Cumps.

30 de outubro de 2020 às 18:03  
Blogger Dulce Oliveira said...

Só me ocorre dizer: que bom que é morar na "província" (seja lá o que isso for)
:))

30 de outubro de 2020 às 20:00  

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