31.5.05

Os pobrezinhos da minha tia

EU TIVE uma tia muito bondosa que seguia um princípio muito rígido quanto às esmolas que distribuía: além de, evidentemente, ter de estar convencida de que o pedinte estava mesmo necessitado, NUNCA dava o que tinha a dar recorrendo a interposta pessoa ou organização.

De facto, ela lá teria as suas razões para suspeitar que o seu dinheiro podia ir parar a quem não devia! Ah! E como ela - pessoa bem conhecedora "destas coisas"... - desconfiava dos prestimosos "entregadores de esmolas dos outros"!

VEM isto a propósito do facto de a maioria das votações em que somos chamados a participar também sofrerem "desvios": metemos na urna o papelinho para uma coisa, e depois o nosso voto é usado para outra!

Passou-se isso com Guterres: votámos para os "regedores das freguesias", e ele achou que estávamos a criticar o seu Governo.

Passou-se isso com Durão Barroso: votámos para quem nos representasse na Europa, e ele achou o mesmo que Guterres.

Passou-se agora isso na Alemanha: as pessoas votaram para eleições regionais, e a consequência é o Governo cair.

Passou-se agora isso em França: as pessoas votaram para a Constituição Europeia, e o Governo "vai à vida"...

E por aí fora - sucede em todo o lado o que, além de frustrante, parece ser idiota. De qualquer forma, são os próprios políticos que lançam a confusão e baralham o jogo; e os votantes colaboram alegremente na fantochada:

Nas eleições europeias, o PS exigiu que se mostrasse "um cartão amarelo ao Governo". O PCP só variou na cor - queria que fosse vermelho.

E, agora, Jorge Coelho já veio dizer que as próximas eleições autárquicas servirão para "dar um voto de confiança no Governo"! Talvez isso venha a ser verdade mas, se é assim, não devia ser; pelo menos o meu voto não será com certeza de confiança nem de desconfiança.

Bolas! Se as eleições autárquicas não são para escolhermos quem resolva os problemas do sítio onde moramos, para que servem, então?! E quais são aquelas em que, de facto, o podemos fazer?!

Lamento muito mas, NESTE CASO, eu não estou muito preocupado em "derrotar a direita ou a esquerda".

Eu quero é quem me dê garantias (e não "promessas", note-se!) de que vai tirar os carros dos passeios, multar os donos dos cães cujos excrementos eu piso, acabar com a burla dos parquímetros, resolver o problema dos arrumadores e dos sem-abrigo, combater as casas devolutas, os pedintes que usam crianças, a anarquia do trânsito, o lixo que esvoaça...

Bem... É claro que um verdadeiro político deve fazer mais do que RESOLVER problemas: tem de saber prevê-los para evitar que surjam. Mas palpita-me que isso já é pedir muito.

3 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

A propósito dos políticos de 2ª categoria (os que "resolvem" problemas) e dos de 1º categoria (os que os "evitam", antecipando-se a eles), não resisto a citar aqui um exemplo:

Miguel Sousa Tavares, um dia destes, disse qualquer coisa como:

«O Aeroporto da Portela ainda dura mais 12 anos. Por isso, só daqui a 12 anos é que se deve fazer um novo».

(O facto de poder demorar a fazer 10, ou 12 ou 15 anos não entra no raciocínio debitado)

31 de maio de 2005 às 12:40  
Anonymous Anónimo said...

Ultimamente,pelo menos para Lisboa, têm andado a discutir listas para as Autárquicas na base das Legislativas.
Essa é boa!

Eu posso muito bem ter achado que Sócrates era melhor do que Santana Lopes (e votado no PS) mas achar que Carmona Rodrigues é mais eficaz do que Carrilho!

E.R.R.

31 de maio de 2005 às 14:25  
Anonymous Anónimo said...

Apesar de tudo, se a ideia da "esquerda" é derrotar a "direita" em Lisboa, bem pode limpar as mãos à parede, ao dividir-se em 3 cândidas candidaturas.

31 de maio de 2005 às 14:27  

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