12.7.05

«Arrastão, mentiras e vídeo»

(Crónica de Nuno Costa Santos)

Ok, Diana Andringa decidiu transformar-se no Michael Moore à portuguesa. Fez um filme sobre os acontecimentos em Carcavelos com o objectivo de repor a «verdade dos factos» - e, através de depoimentos vários, negar a existência do arrastão.

A iniciativa é meritória – afinal de contas, a jornalista pôs-se a trabalhar num país de indolentes e de revoltados de balcão. Mas não é imaculada (longe disso). Antes de mais, uma notinha simples. Sobre a questão dos depoimentos, convém lembrar que há pessoas que acham o contrário daquilo que é defendido, aqui e ali, no filme. Nicolau Santos, por exemplo, no artigo «A Verdadeira face do BE», escreve que a filha e um grupo de amigos, presentes no local, não têm a mesma «benigna visão do que aconteceu». (Não esqueçamos, pois, este lado da história).

O problema do vídeo é, pois, o excesso militante que traz consigo. E a atitude paternalista com que pretende tratar a questão. Até pela circunstância de ter sido realizado em cima do acontecimento (e em cima do joelho), «Era uma Vez um Arrastão» é uma abordagem superficial e demasiado politizada (como os filmes de Moore) do que se passou. Não é uma peça isenta. Não cruza depoimentos conflituantes. Não estabelece nuances. Pretende passar por um esclarecimento, mas acaba por lançar também alguma poeira sobre a história.

O vídeo de Diana Andringa, uma jornalista profundamente engagée (lembram-se daquilo que comentou depois do 11 de Setembro?), exibe claramente uma tese: a de que aqueles jovens (todos aqueles jovens) são vítimas da boataria racista. A de que aqueles jovens (todos aqueles jovens) são vítimas do sistema. Não é jornalismo. É um rap (aliás, género musical utilizado como banda sonora). Parcial e activista como todo o rap. E eu até gosto de rap – não tenho é de concordar com tudo o que a rapaziada diz.
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Publicado em "A CAPITAL" de 12 Jul 05

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não podia estar em mais desacordo com este artigo...O trabalho da Diana Andringa limita-se a um vídeo em que o próprio Comnadante da PSP Lisboa desmente o sucedido.
A comparação com o filme de Michael Moore é desonesta, o Michael Moore assumiu claramente que o seu filme era um panfleto eleitoral, no caso da Diana era um trabalho que devia ter sido feito pelos mesmos jornalistas que deixaram esta mentira circular, ela ao fazer o trabalho dos outros está a ser militante..da verdade.
Além disso estas acusações contra a Diana são a prova que de facto a imprensa está muito snob e não quer admitir o erro e desvia as atenções para um pretensa militância de Diana Andringa, se não fosse a própria imprensa ninguém saberia que a Diana vai ser candidata pelo Bloco, aliás no site ela não faz uma única referência à sua condição política.

12 de julho de 2005 às 16:42  
Anonymous Anónimo said...

Antes de mais peço desculpa por alguns erros gramaticais mas ainda nao me habituei ao teclado Frances....
Em relaçao ao post fico na duvida, estando no estrangeiro, se houve mais um "Milagre de Fatima" em Portugal, ou seja, nao sendo eu catolico nao acredito que as pobres crianças tenham visto o que quer que seja, no entanto nao posso negar que elas viram qq coisa. O que quero dizer e que naquela praia alguma coisa aconteceu, o que pode ser visto pela Direita como um arrastao ou pela Esquerda como uma carga policial sobre uns pobres coitados que estavam a ouvir rap. De qualquer das maneiras, caso a noticia seja mentira, nao consigo compreender como foi possivel engendrar tal artefacto num Pais onde nada funciona. Outra coisa que nao compreendo e o site do Bloco de Esquerda disponibilizar links para este video...
Estando no estrangeiro temos acesso a uma realidade "filtrada" no entanto, para os Franceses e para mim (e talvez para o resto da Europa) o arrastao existiu quer seja ou nao verdade.

B B J

12 de julho de 2005 às 17:41  
Anonymous Anónimo said...

Em tempos que já lá vão, no tempo do Salazar, quando os media eram controlados pelo famoso lápis azul.... fosse uma epidemia de gripe ou um surto de febres contagiosas, fossem presos políticos ou gente com fome, oficialmente nada disso existia em Portugal. Era tudo mentira, não, não havia em Portugal nada disso. Em Portugal só se mostravam as vozes contentes, nada de mal se passava, era o retrato de um país maravilhoso e próspero, onde todos se davam bem. Era o efeito da censura. Arrastão, não, não houve.

12 de julho de 2005 às 17:56  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Caro João Dias,

Sendo um blogue tanto melhor quanto mais polémica permitir (especialmente se envolver pessoas inteligentes, educadas e informadas), achei que valia a pena pedir ao Nuno Costa Santos autorização para meter o texto dele.

12 de julho de 2005 às 18:36  
Anonymous Anónimo said...

Certamente, não percebo porque razão essa nota foi dirigida a mim...ao discordar eu estou a efectuar o exercíco de contra argumentar este texto, direito que o caro C.Medina Ribeiro decerto me reconhecerá...em algum momento pus em causa o direito de publicar este texto, agora publicado estou certo que me é permitida a discordia.

12 de julho de 2005 às 21:09  
Anonymous Anónimo said...

O site do Bloco tem linkes para jornais como o público...porque será?

12 de julho de 2005 às 21:11  
Anonymous Anónimo said...

Diana Andringa não é uma jornalista independente. Pelo contrário, é facciosa e não merece crédito.

O único mérito que teve foi enrolar o comandante da polícia, a quem entrevistou com propósitos não revelados. Mas também não era difícil. O Xico Pereira é um homem crédulo.

12 de julho de 2005 às 21:13  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Caro João Dias,

Não me interprete mal!

Eu até estou satisfeito com a polémica!

12 de julho de 2005 às 21:17  
Anonymous Anónimo said...

Subscrevo inteiramente o que João Dias diz. Não é costume dizer-se que "só não vê quem não quer"? Pois aqui podemos dizer que "só vê quem quer". :-)

LM

13 de julho de 2005 às 09:29  
Anonymous Anónimo said...

1-jornalismo independente, o que é isso?

13 de julho de 2005 às 10:09  

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