11.7.05

A sugestão de Nuno Crato

«Uma Volta Bem Dada» é o desenvolvimento de um artigo que Rybczynski escreveu e que procurava responder à pergunta: «Qual é a melhor ferramenta do milénio?».

Depois de muito pensar e investigar, o autor chega à conclusão que a chave de parafusos e o parafuso são os melhores candidatos a esse prestigioso título. (Texto completo em "Comentário-1")

2 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

«UMA VOLTA BEM DADA»: UMA HISTÓRIA NATURAL DA CHAVE DE PARAFUSOS E DO PARAFUSO.
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Este é um livro singular, com um título não menos surpreendente. O que poderá ser a história do parafuso? O autor, que colabora regularmente na imprensa norte-americana, era conhecido deste comentarista por «City Life», uma obra esclarecedora sobre a arquitectura e o planeamento urbano, nomeadamente sobre o contraste entre as cidades europeias e as do novo mundo. Tanto num livro como noutro, Rybczynski, um professor da Universidade de Pensilvânia, olha para factos comuns fazendo perguntas surpreendentes e dando atenção à história de pormenores que condicionam a nossa vida.
«Uma Volta Bem Dada» é o desenvolvimento de um artigo que Rybczynski escreveu para o magazine dominical do «New York Times» e que procurava responder à pergunta: «Qual é a melhor ferramenta do milénio?» Depois de muito pensar e investigar, o autor chega à conclusão que a chave de parafusos e o parafuso são os melhores candidatos a esse prestigioso título. O parafuso propriamente dito tem antecedentes na engenharia da Antiguidade, nomeadamente no célebre instrumento que Arquimedes concebeu para elevar água. Mas o parafuso moderno, utilizado em carpintaria e para segurar peças de instrumentos e artefactos, apenas aparece por volta do século XV e tem origem provavelmente alemã. Só se generalizaria séculos mais tarde e só seria industrializado a partir de fins do século XVIII. Hoje, é difícil dar uma volta pela casa sem encontrar centenas de parafusos, assim como não há instrumento moderno em que ele não seja utilizado. Sem parafuso não existiria o microscópio nem o telescópio, não conheceríamos o automóvel nem o frigorífico. Não existiria a ciência nem a civilização que hoje conhecemos.
«Uma Volta Bem Dada» faz-nos viajar às armaduras medievais, às prensas de azeite, às tarraxas de Hero e aos aperfeiçoamentos modernos. Ficamos a saber quem era o norte-americano Henry F. Phillips e a razão do sucesso dos parafusos de cabeça com estrelas, onde se enfiam as chaves que tomam o nome desse inventor e empresário. Percebemos a razão de os parafusos das mobílias pré-fabricadas terem uma cabeça diferente, necessitando de chaves especiais. Ficamos também a saber que o martelo, a broca e a serra são invenções anteriores à nossa era e não podem ser pois candidatos ao melhor instrumento do milénio. Somos levados ao mecanismo de Antikythera, um relógio celeste movido com rodas dentadas e construído há mais de dois mil anos.

A importância do aparente pormenor que é a história do parafuso surpreende qualquer leitor deste livro. É uma obra que se devora numa hora e com a maior satisfação. Percebemos bem o sucesso deste tipo de literatura e deste tipo de investigação. O autor não está à procura de «grandes princípios» da história da tecnologia, antes acredita que é interessante e útil conhecer factos concretos e interpretá-los. Percebe a importância de saber datas, factos, conhecer personagens, problemas da época e dificuldades tecnológicas. E sabe contar uma história de forma a prender o leitor.

Mas talvez o mais surpreendente na leitura desta obra de Rybczynski seja o relato do próprio processo de investigação que o levou a esta obra. Ao longo do livro, o autor explica, passo a passo, as referências que consultou e as limitações que nelas foi encontrando. Mostra como, de referência em referência, foi progredindo através das prateleiras da biblioteca da sua universidade. E como procedeu a consultas noutras bibliotecas. Conta as suas visitas a museus, observando as colecções de armamento medieval, de relógios e de instrumentos científicos. Revela como a história do parafuso está longe de estar feita. Aponta-nos as fontes onde se podem encontrar desenhos de máquinas antigas e referências à entrada de palavras no léxico comum. Além de uma obra educativa e empolgante, o novo livro de Rybczynski é um manual de investigação.

Resta referir o cuidado gráfico posto nesta edição portuguesa, que é uma edição atraente e de manuseamento agradável. As ilustrações estão reproduzidas com qualidade e o índice remissivo, tão frequentemente omitido em traduções, é um guia útil à consulta da obra. O português é fluente e não se encontram os erros de tradução infelizmente tão comuns entre nós. Por tudo isto, encontramo-nos perante uma pequena obra destinada a instruir e dar prazer.
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Texto de NUNO CRATO, adaptado do «Expresso»

11 de julho de 2005 às 19:00  
Blogger maria said...

MARAVILHOSO!
Aqui está mais uma daquelas coisas únicas neste reino virtual: dar a saber destas surpreendentes formas de "fazer ciência", de "contar os percursos do saber", de levar mais longe a tarefa deslumbrante e aventureira de pesquisar, de consultar, de reflectir, de re-pensar, de levar à discussão... que o trabalho científico comporta.
Estas formas (que julgo Geniais) de nos darem "Uma Volta Bem Dada" e conduzir assim à vontade de saber mais e saber melhor, são das razões maiores por que este blog me é tão especial!
Lá vou eu em busca do parafuso! :)

11 de julho de 2005 às 22:02  

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