10.7.05

Os pe(s)cadores

CHEGUEI a ler que o número de envolvidos no «arrastão de Carcavelos» tinha sido de 2000.

Porém, a breve trecho esse número baixava para 500, depois para 400, e (apesar de haver quem tenha garantido que o número real era ZERO), acabou por estabilizar em 50 - segundo um comunicado da PSP onde, por sinal, vinha precedido do saboroso advérbio "Só".

Ora, segundo o «Expresso» de ontem, a mesma Polícia (que, como se sabe, tem agora funções de investigação criminal) veio esclarecer que havia cedido a pressões da Comunicação Social e que a informação (agora dada como falsa) tinha tido origem - saboreie-se a prosa! - num «polícia que não soube consubstanciar exactamente o que tinha acontecido».

Então, de duas, uma: ou se trata de uma nova edição do velho programa da Emissora Nacional «Que quer ouvir?», ou estamos perante a encenação ao vivo da velha fábula do pescador:

«Pesquei ontem um peixe do tamanho de um elefante!» - dizia um, para o companheiro.

Mas foram andando, andando, até que o amigo lhe disse:

«Olha, vamos atravessar uma ponte muito especial. Quando lá passa um mentiroso, ela desaba».

Como se sabe, à medida que se iam aproximando da ponte, o outro ia corrigindo:

«Bem... se calhar era só do tamanho de um boi... se calhar era só do tamanho de um cão...se calhar era só do tamanho de um rato...»

E por fim, ao entrarem na ponte:

«Olha, para falar verdade... não apanhei peixe nenhum!»

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Este texto veio a ser publicado, no dia 12 Jul 05, no jornal «metro». No mesmo dia, uma versão diferente (que pode ser lida em "Comentário") foi também publicada no «Diário Digital»

1 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

O arrastão e o pescador (*)
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Toda a gente conhece a fábula do pescador que, regressando da pesca com um amigo, garantia ter pescado, no dia anterior, «um peixe do tamanho de uma baleia».
E lá foram andando, andando... até que o outro, farto das suas aldrabices, lhe disse:

«Olha, vamos atravessar uma ponte muito especial: quando lá passa um mentiroso, ela desaba».

Como se sabe, à medida que eles se iam aproximando da ponte, o primeiro ia corrigindo o tamanho do peixe:

«Se calhar era só do tamanho de um boi... só do tamanho de um cão... só do tamanho de um rato...»

Até que, ao entrarem na ponte, ele desabafou, já em pânico:

«Olha, para falar verdade... não apanhei peixe nenhum!»

Claro que me lembrei disso a propósito do «arrastão de Carcavelos»:

Cheguei a ler, no início, que o número de envolvidos havia sido de 2000; depois, rapidamente esse número baixou para 500, em seguida para 400 e, apesar de haver quem garantisse que o número real era ZERO, acabou por estabilizar em 50 (segundo um comunicado da PSP onde, sem humor, esse número vinha precedido do saboroso advérbio "Só").
Ora, como se sabe, a mesma Polícia (que, por sinal, tem funções de investigação criminal) veio esclarecer que havia cedido a pressões da Comunicação Social, e que a informação (que agora diz ser falsa) teve origem - a crer na versão do «Expresso» - num «polícia que não soube consubstanciar exactamente o que tinha acontecido».

Enquanto nos beliscamos (para saber se estamos acordados ou a viver um pesadelo trágico-cómico), o melhor é darmo-nos por devidamente esclarecidos e «exactamente consubstanciados» - seja lá isso o que for...
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(*) Versão publicada, em 12 Jul 05, no «Diário Digital»

12 de julho de 2005 às 13:17  

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