13.7.05

Quem mata a Matemática?

Malabarista dos números, praticando para político (*)

UM dia destes, Nuno Rogeiro dizia - e bem - que a desgraça da Matemática em Portugal tem consequências graves também na política, pois a ela está associada uma noção de rigor, coisa que, como se sabe, anda muito ausente por aí.

Vejam-se os orçamentos sempre ultrapasados e as recentes trapalhadas dos défices e dos rectificativos-rectificados e - pior ainda - a displicência com que tudo isso é encarado:

O govermo «minimiza, desvaloriza e desdramatiza» as barracadas, no que é secundado pela Oposição - o que até tem lógica se pensarmos que não saberia fazer melhor.

*

Há quem se irrite quando, na altura de fazer a soma das parcelas da conta do restaurante, alguém lhe diz: «Vê lá tu isso, que és bom a Matemática».
Bem... saber Matemática não é só «saber fazer contas». Mas reconheçamos que também o é (embora apenas um dos seus primeiros degraus e assunto da "escola primária").

--
(*) Desenho retirado da capa do livro «Divertirsi con la matematica», de Peter M. Higgins

14 Comments:

Anonymous Anónimo said...

os bons matemáticos não se interessam por política. Na realidade, os bons, seja lá em que quer que seja, normalmente não se interessam por política.

13 de julho de 2005 às 13:53  
Anonymous Anónimo said...

Na realidade, os políticos são, em geral, pessoas sem formação técnica: a maioria são advogados, alguns são professores, etc.

Mesmo Sócrates, que diz que é engenheiro, nunca revelou qual o seu nº de inscrição na respectiva Ordem!

E.R.R.

13 de julho de 2005 às 14:45  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Curiosidade:

No centro deste desenho vê-se o que pode suceder ao valor nosso défice:

De um "6" passa-se a um "9" (e vice-versa) num ápice!

13 de julho de 2005 às 14:47  
Anonymous Anónimo said...

E eu que julgava que o 9 era um 6 murcho ! Coisas da canícula!

13 de julho de 2005 às 15:10  
Anonymous Anónimo said...

Presumo que os erros de cálculo do nosso défice se devam a avarias nas máquinas de calcular. Caramba! Será isto o que ele tinha em mente (nos "calabouços" da mente) quando se referia ao choque tecnológico?
a c

13 de julho de 2005 às 15:28  
Anonymous Anónimo said...

Presumo que os erros de cálculo do nosso défice se devam a avarias nas máquinas de calcular. Caramba! Será isto o que ele tinha em mente (nos "calabouços" da mente) quando se referia ao choque tecnológico?
a c

13 de julho de 2005 às 15:28  
Anonymous Anónimo said...

Presumo que os erros de cálculo do nosso défice se devam a avarias nas máquinas de calcular. Caramba! Será isto o que ele tinha em mente (nos "calabouços" da mente) quando se referia ao choque tecnológico?
a c

13 de julho de 2005 às 15:28  
Blogger maria said...

Os problemas do Sistema Educativo TODO, com particular destaque para a Matemática e a Língua Portuguesa, parecem-me demasiado graves para discutir com vozes anónimas mas, dada a afirmação inicial destes comentários, vejo-me claramente impelida a discordar! Não creio que seja verdade que "os bons" (como refere) não se interessem por política. A Política é demasiado séria para estar (há tanto) a ser jogada por interesses muito para além do bem comum, esse será o seu/nosso drama mas, dizer que qualquer que seja o indivíduo, desde que "os bons, seja lá em que quer que seja... não se interessam por política" não pode ser verdade.
Julgo que vivemos tempos trágicos de DESeducação profunda, de descrédito, de falta de confiança quase absoluta na capacidade de mudar e, muito mais grave porque com implicações patéticas, tempos em que os cidadãos se fecham, remetendo-se ao "confortável" lavar-as-mãos por não ter nada a ver, por não-ter-qualquer-poder para transformar a realidade - da qual todos somos parte e pela qual todos temos a nossa dose de responsabilidade pelo estado da vida que vamos experimentando.
Mantemos estereótipos, mantemos atitudes, formas de pensar e organizar tudo à nossa volta, desacreditamos de todas (ou quase todas) as propostas sem antes as analisar e sobre elas propor alterações que nos parecessem válidas, desistimos da discussão de ideias antes mesmo delas serem levadas a debate, abandonamos projectos ainda antes de os ter experimentado ou, experimentamos demasiado em nome da modernidade... tem sido assim, em Educação, nas escolas, nos programas curriculares, nos manuais escolares (ou na sua ausência)... nas técnicas educativas, nas propostas de renovação curricular, nas metodologias, nas "pedagogias ditas libertadoras", na formação de professores cada vez mais enganosa falaciosa "de brincadeira" de observação de falha em saberes específicos de bode-expiatório em bode-expiatório atribuído às ciências pedagógicas e à psicologia...
Por que será que anda tanta gente a teimar fechar os olhos em lugar de os abrir bem para ver mais longe e mais fundo a raiz do mal-estar?
Em Educação, como na Política, tudo seria resolúvel se houvesse a montante o(s) ingrediente(s) fundamental(ais): vontade! Coragem! Saber! Atrevimento! Fazer!... sim... depois de fundamental para lhe dar forma plural, teria bastado o is mas escolhi Ais! Sim, que trabalhar seria dar inicio a muito "ai" de alteração de rotas, de mudança profunda de vícios, de reorientação de destinos.
E toda a gente sabe que trabalhar com norte cansa! mas é o único modo de fazer o desejo ganhar sentido! Começar na Matemática? No Português? Que tal voltar a dar lugar ao saber para só de seguida falar de “competências”? que tal tentar aliar (pelo menos) saber e competência? É que todo o saber popular canta o “não é possível fazer omeletas sem ovos” mas ninguém parece saber disto quando desata a “bater” conteúdos… ou a misturar a ideia dos “bons em qualquer área” alheios e separados de toda e qualquer questão política…

13 de julho de 2005 às 16:08  
Anonymous Anónimo said...

oh maria, sabe qual é o grande mal dos políticos em geral? Falam muito mas, nao dizem nada.(...e olhe que li o seu post todinho até ao fim.... ). Assim sendo, o malabarista do desenho é um político nato. A matemática, pelo contrário, é uma ciencia sem malabarismos.

13 de julho de 2005 às 17:24  
Blogger maria said...

Pois sim, seja o malabarista um político nato... em quase todas as actividades, algum malabarismo deve dar jeito! mas, sem brincar, voltando às palavras e ao muito que pode dizer-se não dizendo coisa nenhuma, vou fazer uso de Almada Negreiros, posso? diz assim: "Quando nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a humanidade."... está escrito, n' A Invenção do Dia Claro
... pois eu também julgo que sim, anda para aí tudo muito dito. Cansa-me ver sempre bater na mesma teclazinha, do valor de bons contra políticos, de pseudo-políticos contra brilhantes cientistas. Até esta ideia de "contra" já me parece gasta... quanto a mim, que mantenho um viciozinho de pensamento “lúcido-adolescente”, ainda creio que é possível a guinada que há-de mudar o mundo e creio que essa força de rumo surge, todos os dias, um bocadinho mais em cada acção individual (pequeninas, talvez demasiado "insignificantezinhas"), por mim (e ainda ao jantar acabei de me cruzar com um dos meus antigos estudantes com quem recordei dessas parcelas ínfimas d' "o que fazer para melhorar isto?" - sim, a matemática e a sua aprendizagem ou devo dizer, o seu conhecimento?!) sei bem de acções simples e direccionadas que podem fazer a diferença... são pequenitas, é verdade, quase insignificantezitas, é verdade! mas que fazem diferença?! Ah, isso fazem! E são sustentadas pelo saber específico da ciência em causa e os modos de a partilhar, até que as bases para os passos de cada um, no seu desenvolvimento, se dêem suportados.
Olhe, por exemplo e sem sair do segundo ou terceiro ciclos, por coisas tão “evidentes” quanto apontar para as ligações entre as equações de primeiro grau e a “equação da recta”, de segundo grau e a parábola, da “técnica” da lei do anulamento do produto e a determinação de zeros… e por aí e por aí e por aí… “ridiculices” quase, como queira! Mas que fazem a diferença! Às vezes, por que “a coisa” parece demasiado evidente não se aponta, o que quando os indivíduos não estão despertos para encontrar tais evidências, no ensino, em lugar de indicar caminhos claros, deixam-se as “alminhas” à nora, sem destino, perdendo tempo. Precioso.
E a Matemática é uma ciência sem malabarismos? Posso estar a brincar com as palavras, mas vejo-a sempre como muito cheia de “avarias” e aventuras do pensamento… aliás, apenas comparável ao gozo imenso de misturar cálculo ou juízo a partir do que é dito com palavras faladas e por escrever.

14 de julho de 2005 às 01:22  
Anonymous Anónimo said...

Já que se fala de ensino...estranho, aliás muito estranho, é que eu vejo muitas críticas ao ensino, mas pergunto-me: as faculdades que as pessoas têm, não adquiriram muitas delas no ensino? Estão as pessoas a passar um atestado de incompetência a si mesmas?

Talvez isso explique a razão porque muitos críticos até sejam pessoas que não cumpriram o ensino obrigatório. Porque será que os alunos não dizem que o ensino é mau, porque será que são as pessoas que já estão formadas que dizem que o ensino não presta?

E já que ainda sou aluno vou dizer a minha visão do que está mal no ensino...e já agora o que está bem.

Mal está por exemplo ver os professores mais preocupados em cumprir o programa do que ter vocabulário suficiente para "desmontar" o conceito, mal está a falta de concentração dos alunos...
Bem está no facto de em comparação com o ensino estrangeiro, em termos de rigor e exigência, o ensino português não dever nada aos outros (tenho colegas de erasmus), bem está o facto de muitos professores gostarem mesmo da profissão e mesmo sabendo que estarão constantemente em concursos e desempregados entregam-se à causa e fazem sacrifícios inimagináveis para muitos de nós.

14 de julho de 2005 às 05:40  
Anonymous Anónimo said...

maria, cá pra mim (e voltei a ler o seu bem escrito post todinho até ao fim) as coisas são simples: o matemático soma dois e dois igual a quatro. O político, no entanto, quer convencer as pessoas que com geitinho, com geitinho, dois e dois até podem ser cinco. Mas, concordo em absoluto, não há duvida que a retórica tem muito que se lhe diga. Cumprimentos

14 de julho de 2005 às 09:58  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Mais ainda:

1 - O matemático, diz que "metade de 8 é 4" (embora alguns confirmem com máquina-de-calcular).

2 - O político diz que «depende», pois «8 cortado "ao alto" dá dois 3 e "atravessado" dá dois 0»

14 de julho de 2005 às 10:04  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Um amigo meu, perante problemas destes, costuma responder assim:

«Não sei se está bem ou se está mal. Vejam-se os resultados, e avalie-se por eles».

É um bom critério.
Assim, veja-se aquilo a que assisti (e que escrevi noutro lado)

---
Recentemente, conheci uma arquitecta e um professor de Físico-Química que, por junto, ignoravam (sem o esconderem nem se envergonharem) coisas como a área do trapézio, do círculo e do triângulo;
o perímetro da circunferência;
a tabuada (especialmente dos 7, dos 8 e dos 9...);
as provas-dos-9 (todas); as provas-reais (todas);
as divisões;
as raízes-quadradas...

E por aí fora, numa orgia de ignorância que, evidentemente, alastrava à Geografia, à História de Portugal, à Gramática, etc. etc.

(...)

Aliás, já há dias, num concurso televisivo, uma senhora com formação (?) científica não sabia quantos graus tinha (e dizem que ainda tem) um ângulo recto - mesmo sendo-lhe dadas as hipóteses 0º, 90º e 180º.
(...)
**************

Abordando estes casos com alguns jovens professores e licenciados, TODOS desvalorizaram os exemplos.

Terão razão?
Não sei. «Vejam-se os resultados» - como diz o outro...

14 de julho de 2005 às 12:21  

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