Salazarismo, amnésia e impudicícia
Por Carlos Barroco Esperança
NUM PAÍS IMAGINÁRIO vivia um tirano num palácio onde a governanta criava galinhas e se deslocava à praça para vender os ovos que sobravam.
Era um país triste, onde grassava a fome, a doença e o desespero, onde os homens se reuniam à segunda-feira na praça pública à espera de quem lhes alugasse os braços, do nascer ao pôr-do-sol.
O tirano tinha polícias que guardavam o Palácio e vigiavam o pensamento do povo; tinha os padres que, nas missas, punham o povo a rezar por ele e a pedir que lhe fosse concedida longa vida; tinha a Legião, a PIDE, a União nacional e a Mocidade para fazerem a sua apologia e vigiarem quem se lhe opusesse.
Era o País do medo, da miséria e, finalmente, da guerra que o tirano impunha de botas calçadas, com a manta sobre os joelhos e a comer carapauzinhos com feijão-frade.
Às vezes matavam-se uns adversários, que eram comunistas, outras, deportavam-se suspeitos que eram perigosos. Tinha juízes que eram pulhas e simulavam julgamentos nos Tribunais Plenários, tinha um cardeal que era um biltre, que confundia o fascismo com a divina vontade, e milhões de vítimas que se conformavam com a tristeza à espera que a morte os libertasse do cárcere da vida.
Nesse país a mortalidade infantil era a maior da Europa, o analfabetismo ocupava o lugar cimeiro e, para morrer, eram os autóctones os primeiros a ser chamados.
Nesse país a mortalidade infantil era a maior da Europa, o analfabetismo ocupava o lugar cimeiro e, para morrer, eram os autóctones os primeiros a ser chamados.
O tirano morreu porque uma cadeira fez a tarefa que o povo falhou e o ciclo biológico cumpriu-se sem que a justiça fosse feita.
Foram morrendo os que o tirano não matou e outros nasceram a quem nada disseram. O tempo não se limita a eliminar pessoas, mata sobretudo a memória colectiva.
Assim, o país que resta divide-se entre os que viveram o pesadelo e os que vislumbram na náusea de um cadáver o mítico D. Sebastião na demência de impérios sonhados e paraísos inventados nas agruras do passado.
É este país, Portugal, o pântano onde florescem nazis tardios que organizam romagens a um crápula defunto, onde um edil rústico e analfabeto promove o culto ressuscitando a velha seita.
Jamais se homenageará Hitler na Alemanha, Mussolini em Itália, Franco em Espanha, Estaline na Rússia ou Pinochet no Chile. Em Portugal, a náusea e a decência foram exoneradas do quotidiano enquanto se exuma o cadáver de um tirano para alimentar os abutres que poisam no céu cinzento de um futuro ameaçado pelos vermes que sobram de uma campa lúgubre do cemitério de Santa Comba Dão.
O meu País apodrece e morre na fúnebre evocação de um vampiro mal enterrado.
«Jornal do Fundão» – 8 Mar 07
Etiquetas: CBE
5 Comments:
"Tinha juízes que eram pulhas e simulavam julgamentos nos Tribunais Plenários"
Que foi feito destes juízes?
Será que foram reciclados pela sua corporação e chegaram ao topo da carreira?
"Era o País do medo, da miséria e, finalmente, da guerra que o tirano impunha de botas calçadas, com a manta sobre os joelhos e a comer carapauzinhos com feijão-frade."
Será que são o resto dos que ainda passaram fome que estão a votar no salazar?
Será que apenas os juízes foram reciclados?
E os bufos?
Toda essa merda já terá morrido?
Terão feito escola, ou pior ainda, estarão passando às crias entretanto paridas, os ensinamentos que tão longe os trouxeram?
E todos vocês, os que nada fizeram naqueles tempos idos e nada têm feito neste entretempo passado, de que se queixam? Só se fôr de vós mesmos...
Hipócritas...
«eu falava, mas sabe tenho filhos para criar...»
«eu fazia, mas sabe não quero comprometer o meu conforto...»
Egoístas...
Tendes, efectivamente, o que mereceis...
Salazar é grande.
Só quem não tem olhos para ver o que se passa á nossa volta pode escrever um texto destes. Ainda têm medinho, é?
O erro de Salazar foi não ter limpo o sebo a muita gente que o merecia.
Inacreditável.
Salazar é grande, foi e será sempre superior a todos os comentários ressabiados e incultos que se possam escrever a criticá-lo.
Pois, porque hoje em dia, neste país supostamente DEMOcrático, as pessoas vivem felizes e com a barriga cheia de liberdade, iguais a todos os outros países da UE, mas inferiores a todos eles.
Se a ditadura foi assim tão má, o quê que a DEMOcracia fez de bom por nós, país que somos a cauda da europa em tudo o que é bom e primeiros em tudo o que é mau.
Ele devia voltar, ou alguem como ele....
Anónimo:
O Senhor ainda vive no tempo do tirano. Por isso tem medo e usa o anonimato.
Eu podia explicar-lhe as vantagens da democracia mas, para isso, era preciso que tivesse entendimento.
Há que se ser bem burro para se ser democrata nos tempos que correm.
VIVA SALAZAR!!!!!!!!!!
VIVA SALAZAR!!!!!!!!!!
VIVA SALAZAR!!!!!!!!!!
VIVA SALAZAR!!!!!!!!!!
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