25.9.07

PASSEIO ALEATÓRIO

Computadores contra o ensino
Por Nuno Crato
HÁ UMA CORRENTE PEDAGÓGICA que se fascina com a tecnologia e acha que calculadoras, quadros interactivos e computadores são a solução para os problemas do ensino. Um exemplo dos danos causados por essa corrente foi a promoção das calculadoras em detrimento do cálculo mental.
O problema, como é óbvio, não está na tecnologia, mas na maneira como ela é utilizada. O deslumbre provinciano pela modernidade, no entanto, esquece esta verdade simples. E não quer aprender com os erros dos outros. Estudos vários (v., e.g., Educ. Studies in Math., 56, p. 119), apontam para o abuso das calculadoras como um dos factores de insucesso escolar. E nos Estados Unidos, país que há uma década promoveu a generalização dos computadores portáteis nas escolas, assiste-se neste momento a uma marcha atrás acelerada.
Vale a pena, por exemplo, ler o informativo artigo «Seeing no progress, some schools drop laptops», publicado no New York Times em 4/5/07 e acessível gratuitamente pela Internet. Directores de escolas, professores e pais classificam a generalização dos computadores nas salas de aula como uma «distracção para o processo educativo».
Um estudo do IES (NCEE 2007–4005) não encontrou melhorias nas aprendizagens de matemática e das línguas devidas ao uso de computadores. E o grande mentor da introdução de portáteis nas escolas, Mark Warschauer, professor e autor de «Laptops and Literacy», viu-se recentemente obrigado a confessar que, «quando se trata de elevar os jovens aos patamares fundamentais, talvez os portáteis não sejam o caminho».
É bom usar computadores, mas é perigoso deslumbrar-nos e julgar que eles vão resolver os problemas básicos do ensino.
«Expresso» de 22 de Setembro de 2007

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5 Comments:

Blogger R. da Cunha said...

Abaixo os computadores e similares? Nem pouco mais ou menos. Mas sou do tempo em que decorei a tabuada, tinha que saber consultar a tabela dos logarítmos, extrair a raíz quadrada, calcular um integral e "coisas" idênticas. E não era nada fácil...Agora, é só carregar num ou dois botões e a solução aparece como milagre. E o raciocínio, para onde vai?

25 de setembro de 2007 às 21:16  
Anonymous Anónimo said...

Quando oiço falar do Sócrates a distribuir computadores (ver não vejo, porque quando ele aparece no ecran mudo de canal) lembro-me sempre do Guterres a falar da internet como se fosse a coisa mais importante do mundo, quando ele próprio nem sequer conhecia o símbolo @.
A ignorância do cavalheiro ficou bem patente num debate televisivo com o Portas. Quando o moderador lhes mostrou uma folha A4 com o símbolo @ estampado a todo o tamanho da página, o Portas pelo menos soube dizer que era a "arroba". O Guterres, atrapalhadíssimo, apenas conseguiu balbuciar que era um símbolo dos computadores.
Santa tristeza. Contrariamente ao Sócrates, o Guterres ainda frequentou um curso superior a sério. E com notas brilhantes. Mas naquele debate revelou que nunca mexeu num computador. Nem sequer usou a velhinha folha de cálculo do Lotus 123, cujas funções matemáticas entravam com o @ (no Excel também, além do =). Para um engenheiro é difícil de compreender. Que raio andou o sujeito a fazer durantes tantos anos?
Jorge Oliveira

25 de setembro de 2007 às 23:34  
Blogger susana said...

Eu também sou desse tempo, mas uma coisa não impede a outra. Tenho por norma, fazer as contas das duas maneiras, não confio inteiramente nas máquinas e certifico-me sempre!
Se não houvesse pc's não haveria blog's, nem msn, etc! A internet é uma mais valia se for usada correctamente e de forma moderada!
Um aparte: não percebo porque este blog tem tantas visitas, se comentários nem vê-los! Será por os vossos nomes serem conhecidos??
Ou por prometerem prémios a quem cá vem?
Estou a pensar fazer algo para vos eclipsar, será um prémio mas de outra maneira....ehehe
bjs missixty

26 de setembro de 2007 às 08:53  
Blogger bananoide said...

De facto, missixty levantou uma questão pertinente, na qual eu vou pegar, apesar de não ter a ver com o tema:

O número de visitas deste blog é alto, mas, comparativamente, o nº de comentários é bastante baixo.

Tirando o facto de haver um aumento do nº de visitas às 4ªs feiras, por causa dos passatempos (também noutros dias, mas com menos expressão), é de facto estranho o número reduzido de comentários...

Ainda é mais estranho se considerarmos que os autores do blog são extremamente acessíveis quando há comentários aos seus textos e até respondem, mesmo quando os comentários não são nada favoráveis.

Será que por os autores serem figuras públicas os visitantes têm medo fazer comentários? Glossofobia, talvez?

Vá lá, uma sociedade participativa é uma sociedade evoluída!

Quanto aos PCs: Sou do tempo em que foram introduzidas as calculadoras. A estupidificação dos alunos foi muito rápida.

Infelizmente, reconheço, a Calculadora do Windows é um dos programas que aparece na minha lista de programas mais usados do menu Iniciar. Dá jeito, mas não devia precisar dela. É como as muletas. Se precisamos delas, é porque algo está mal connosco.

26 de setembro de 2007 às 20:49  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Quanto aos PC, às máquinas de calcular, à tabuada, etc.:

Vai ser afixado, a qualquer momento, um problema delicioso, datado de 1933, que tem muito a ver com isso.

Não deve ser fácil de resolver para quem não souber fazer divisões e/ou multiplicações "à antiga"...

26 de setembro de 2007 às 21:23  

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