9.10.07

PASSEIO ALEATÓRIO

O Sputnik, Salazar e os americanos
Por Nuno Crato
HÁ PRECISAMENTE 50 ANOS, no dia seguinte ao lançamento do Sputnik, a televisão norte-americana noticiava o sucesso como «uma das grandes façanhas científicas do nosso tempo». O tom geral dos noticiários e da imprensa era de entusiasmo. Pouco importava que o primeiro satélite artificial da Terra fosse uma realização da União Soviética. Só passados uns dias se tomou consciência de que o Sputnik podia significar um avanço preocupante do grande rival — um satélite poderia vir a constituir uma ameaça militar. Em 9 de Outubro de 1957, cinco dias depois do lançamento, o presidente Eisenhower anunciou aos norte-americanos que o seu país tinha também um programa espacial que em breve iria dar frutos.
Enquanto isso, em Portugal o facto passava quase despercebido. As realizações científicas de um país ideologicamente hostil eram oficialmente ignoradas. Um professor universitário explicava que era possível tratar-se de um embuste e que, muito possivelmente, o Sputnik não existiria. Outros afirmavam que era impraticável lançar um satélite ao espaço.
Enquanto em Portugal se escondia a cabeça na areia, os Estados Unidos não perderam tempo. Reformularam a educação. Deram mais destaque ao ensino experimental. Aceleraram os estudos para os jovens mais dotados. Formaram rapidamente uma geração de engenheiros e cientistas de escol.
Na realidade, o Sputnik constituiu um incentivo para os norte-americanos. Não estavam tão atrasados como diziam. Logo em Janeiro de 1958, ou seja, três meses depois dos russos, lançaram um satélite, o Explorer 1. E em 1969 colocaram um homem na Lua.
NOTA: O teor desta crónica, publicada no «Expresso» do passado dia 6, é bastante semelhante ao da que aqui foi afixada dois dias antes. Aqui fica, no entanto - quanto mais não seja para arquivo.

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