14.12.07

«Eles estão doidos!» - Votação pelos leitores

A crónica de António Barreto «Eles estão doidos!» teve um grande número de comentários que levaram o autor a esclarecer alguns aspectos numa «Parte-II» [v. aqui].
Como lá se indica, estava previsto um prémio para o melhor comentário feito a este segundo texto.
Após uma primeira selecção de 10 (ver em comentário), a "votação pelos leitores" deu o seguinte resultado:

Pede-se, pois, ao leitor "Nortada" que escreva para sorumbatico@iol.pt (até às 20h do dia 18), indicando morada para envio do prémio que, como se anunciou, consiste em três modestos livros de culinária.

1 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Comentários à votação

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A) Passei apenas para deixar duas notas: subscrevo na íntegra o presente texto, bem como o anterior e para agradecer por o ter escrito, dando voz a alguma opinião. Pelo menos à minha.

Acrescento ainda que vivi em Munique alguns anos e a situação dos mercados de rua que descreve é exactamente a mesma. E nos restaurantes tem muito mais valor um produto realmente artesanal do que o equivalente industrial.

Finalmente, acho significativo que para a zelosa ASAE seja mais importante a embalagem do que o conteúdo. Posso comprar um pão cozido em qualquer supermercado contendo 15 de ingredientes (11 a mais do que o necessário, sendo 7 deles aditivos) e tudo estará bem desde que a respectiva embalagem esteja conforme as normas.

Escrevi umas coisas sobre isto há uns tempos (Geração aditivada).

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B) Conheço uma pequena tasca em Lisboa, simpática, mas o Sr. Manel, chamemos-lhe assim, fatia o bom queijo de ovelha com a faca que corta as peças de lombo de porco, na mesma prancha de plástico. Gosto de ver o prazer dele, retira a bandeja de plástico da arca frigorífica, hesita um bocadinho, escolhe uma peça, dá alguns passos, e trata de cortar alguns bifes.

Nos cafés há, por sistema, um barulho ensurdecedor de pires e chávenas atirados para alguidares que viajam entre o balcão e a máquina de lavar louça. Com frequência as chávenas têm o bordo com rasuras.

Não deve ter sido por acaso que o Galeto (snack-bar de luxo em Lisboa) esteve fechado mais de uma semana o ano passado.

A ASAE antes de ser fundamentalista é sobretudo portuguesa. Não pode fazer o seu serviço em silêncio, sem se fazer acompanhar por hordas de jornalistas, com câmaras de televisão, que filmam frigorificos dos restaurantes chineses adaptados à complacencia lusa. E como é portuguesa faz pedagogia pela força bruta.

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C) Trabalhei como supervisor na cozinha do Little Chef no Reino Unido durante alguns anos, ali aprendi uma serie de normas para trabalhar dentro de todas as condições. A explicação é puramente para aclarar minhas opiniões.
A ASAE que tenho visto nas noticias
é fundamentalista, autoritária e com pedagogia ZERO!
Antes de tomarem atitudes de força, deveriam educar, ensinar regras de higiene, controlo de temperaturas, condições de "embalamento", etc...
Entretanto o que se ve é uma acção sempre de força, os que tudo analisam, acabam por fazer um trabalho faccioso pois as regras são para trabalhos diferentes. Quantas vezes pergunto a empregados quais as datas e temperaturas, exposição e gorros, etc...Olham-me muitas vezes como um boi de presépio!...
Entretanto há espaço para o caseiro, o queijo artesanal, a compota ou o bolo da azeite! Não quero bromato no meu pão! Prefiro um folar de Chaves assado no borralho! Milhares que comeram ainda cá andam!
Na minha casa continuaremos a pisar o vinho! Depois de "mosto", ao fermentar deixa de existirem bactérias.
Tenho tios com mais de 95 anos, minha avó foi aos 96, todas criadas no campo, ( antes de introduzirem o escaravelho nos batatais) estão de boa saude!
Acho que os da velha Albion é que estão com razão, mesmo na UE impõem regras em defesa dos seus valores, habitos, defendem a sua diferença. Os franceses também!
A EU só será de facto uma reunião saudável se essa união respeitar as particularidades culturais de cada País !
Como sugestão proponho que se faça uma petição a nível europeu, seja enviada aos responsáveis europeus, que essas regras respeitem a cultura, os hábitos da cada povo.
Afinal ainda somos humanos e não seres euro-robotizados!
Não podemos aceitar a uniformização
sem lutar por nossas diferenças.
Quero ser diferente! Quero ter condições de criar anti-corpos!
Quero dizer não as SGM! Quero ser livre! Quero minha memória nativa!

PS: o que será não poder comer um maravilhoso arroz de cabidela?
PS: SGM sementes geneticamente modificadas

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D) Sem dúvida que o furor causado pelo tema deve-se em grande parte à aceitação quer consciente como inconsciente do importante papel da mesa, da cozinha na cultura portuguesa, é importante em todas as culturas no nosso caso julgo especialmente importante.
A nossa riqueza gastronómica é um dado adquirido não vale a pena estar a lembrar ou defender o óbvio, a nossa gastronomia é muito baseada na autenticidade dos sabores, talvez por ser uma gastronomia muito assente na cultura marcadamente rural que infelizmente por algum lado e muito felizmente por outro mantivemos durante mais tempo do que o resto da Europa.
O choque resulta essencialmente da tentativa atabalhoada que está ser feita de moldar as nossas práticas culinárias/culturais ao urbanismo/internacionalismo tido como aceitável a eurocratas nados e criados em assépticos apartamentos em assépticas cidades, em vez de se estar a adaptar os normativos comunitários à realidade e singularidade de cada região, para não só as manter, mas, as exaltar, conforme os verdadeiros objectivos da construção da Europa Comunitária.
A grande força da Europa deveria estar assente na diferença, mas hoje o grande esforço de construção é essencialmente o de arroteamento…a diferença é perigosa porque é de difícil e exigente governo e na Europa já foi muitas vezes mortífera, se queremos a Europa Comum construída à velocidade que a estamos a construir, identidades terão de ser arroteadas… porque não começar pela cozinha?

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E) Esta resposta de AB aos comentários recoloca as questões postas inicialmente num patamar ligeiramente diferente.

No entanto continuo, respeitosamente, a discordar com este nosso ilustre pensador e, com isso, não penso que ele goste de porcaria ou que tenha nostalgia de sujidade.

Apenas considero que não vê correctamente a questão!!!

Portugal é o País onde alguns lojistas desligam à noite os seus frigoríficos e arcas, o País onde em muitos locais o uso de gelo para a venda de peixe não é regra generalizada, onde se mexe em pão e em dinheiro indistintamente, onde se coloca lixo junto de alimentos nas cozinhas de alguns restaurantes, onde a loiça é metida em alguidares de plástico e aí "lavada" com uma única passagem de água... onde etc…etc…etc…

Portugal é ainda um país atrasado... simpático... mas atrasado... e esse atraso revela-se na falta de civismo que todos conhecemos diariamente. No trânsito, nos serviços públicos e… também… no comércio alimentar e na restauração. Penso que isso não é novidade para ninguém.

Hoje em dia com os conhecimentos técnicos que possuímos já podemos definir metas e objectivos de segurança alimentar de uma forma científica. Por isso não é de estranhar que as metodologias associadas e esses objectivos fiquem consignados na lei…

Parece estranho… Bom, pode parecer… mas todas as mudanças nos parecem estranhas de inicio.

Pedro Barroso, fala num outro “post” do blog “SORUMBÁTICO” numa queijaria artesanal que faz uns queijos magníficos… pois, mas quantas queijarias artesanais não têm cuidados de higiene?

Seria lógico que a lei só se aplicasse a alguns, ou que fosse tão limitada que ficássemos apenas à mercê do bom senso da inspecção a cada local, com decisões subjectivas baseadas nos pareceres de cada inspector?

Penso que não! Conhecendo a realidade como conheço, uma legislação que passa do 8 para o 80 apenas conseguirá chegar ao 40. E se for assim já não será mau…

Finalmente cumpre-me referir que sempre fui um leitor atento de António Barreto, uma figura incontornável da nossa cultura e do nosso pensamento.

Sempre fiquei fascinado com a sua clareza de raciocínio, a sua capacidade argumentativa e o seu uso perfeito da língua portuguesa. Contudo a qualidade da retórica nem sempre coincide com a razão. Neste caso continua a fascinar-me, mas sinceramente não consigo concordar com a mensagem que as suas palavras transmitem.

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F) A liberdade de escolha e o discernimento evitam a necessidade paternalista de proibir o óbvio. Neste sentido, não preciso que seja interdita a venda dum queijo coberto de moscas porque simplesmente não o comprarei.

Mas, continuando ainda este exemplo, sendo obrigatória a embalagem industrial, automaticamente deixo de poder comprar um produto artesanal à pessoa em quem confio há longos anos.

Alternativamente, passo a dispor de produtos repletos de conservantes, anti-oxidantes, aromatizantes, corantes, açúcar, hidrogenados e toda mais uma panóplia de aditivos acrescentados para prolongar desnecessariamente a validade do produto e para disfarçar o facto de não ser fresco.

Tudo dentro dos limites legais, obviamente, não sobrando portanto palco para a exibição da ASAE. Mas, como consumidor, ganhei ou perdi? Antes podia escolher entre um produto natural e o equivalente industrial. Agora não. Para mim, a resposta é óbvia.

Um outro aspecto. Ao ler os comentários anteriores noto que em alguns casos situações anormais são usadas para justificar a normalização por baixo. Nós não temos uma temperatura de 40ºC durante todo o ano e haverá regiões em que esta nem chega a ser atingida. Acresce que também existe o conceito de sazonalidade.

Noto também que é sugerido que quem vê exagero na actuação da ASAE está a defender a inexistência de regras. Para mim, estas são necessárias mas as actuais estão desadequadas. Então não poderei tomar um café em chávena de louça numa esplanada? É preferível o uso do plástico? Haja pachorra.

Acresce que, finalmente, não é debitando legislação que se mudam atitudes e hábitos. Regras claras, consensuais, balanceadas e continuamente fiscalizadas são a chave de ouro para que não se vendam galinhas ao lado do queijo de Azeitão. Lembram-se da proibição de na restauração vender água em garrafa de plástico. Proibiu-se e deu em quê?!

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G) As Incongruências do Meu Bem-estar

O Sr. João (nome fictício, claro) vende castanhas, desde sempre, em frente a uma estação de comboios por onde passo diariamente. Eu, aproveitando esta onda de preocupação normatizada pelo meu bem-estar, perguntei-lhe, como me seriam servidas as castanhas de agora em diante. As resmas de papel branco A4 foram a resposta para o problema, ainda que, digo eu, à custa de mais algumas árvores.
Quanto ao Supermercado onde tinha a minha sopa quente e os meus rissóis, lá continua. Agora, o repasto passou a ser servido gelado em nome de uma pretensa salvaguarda à minha saúde. E, no entanto acompanhem o meu raciocínio.
Não muito longe deste supermercado, está um hospital, onde há aproximadamente 18 meses tive a minha bebé, e aí, dividi duas casas de banho com 20 a 30 mulheres vindas dos seus partos sangrentos. E por falar em hospital foi neste mesmo sitio que o meu avô foi internado e morreu. Não pela trombose responsável pelo seu internamento, mas pela pneumonia contraída com as correntes de ar numa maca no corredor. Claro que podemos atribuir algumas culpas à colher de pau com que a minha avó mexia a sopa. E quanto à velhota que foi transferida no solstício do Inverno por falta de camas e que contraiu uma pneumonia? Querem a hora e a data desta operação?
Para abordar mais um dos indicadores de bem-estar lá está o exemplo da escola estatal onde coloquei a miúda no término da licença de parto...esperem, enganei-me. Não existe escola estatal até aos 3 anos de idade. A vantagem é que se resolvermos colocar os putos ‘gatinhantes’ num café eles já não correm o risco de se entregar ao jogo. Acham que este texto não faz sentido? Esperem até entrar num centro de acolhimento ou lar de terceira idade da Segurança Social e reparem como os carros frigoríficos trazem o leite protegido, ainda que fora de prazo de validade.
Não estamos na Suécia e os hábitos da nossa população artesanal chocam com esta medida. E chocam porque acima de tudo ela deveria ser capaz de ser entendida como norma de conduta geral. Posta nestes termos de esquartejamento acaba por se tornar ridícula.
Para terminar, se há países em vias de desenvolvimento onde se morre da doença, parece-me que este é o caso de um país que de estar tão indeciso quanto ao lugar que deve ocupar no índice, acaba muita vezes por matar-nos com a cura.

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H) Tenho sérias dúvidas em tomar uma atitude pró ou contra a ASAE. Não me considero uma fundamentalista e no entanto o tema segurança é-me sensível, pois quer a vida, quer a saúde podem estar em causa. No ramo em que trabalho (transporte aéreo), a segurança é fundamental e não admite cedências , nem dúvidas. Em caso de dúvida o avião fica em terra. É a vida, que está em causa. No caso alimentar é sobretudo a saúde e em último caso também a vida.
As notícias de suspensões que nos vão chegando relacionadas com o ramo alimentar, incidem sobretudo na higiene dos produtos: carne, peixe e pão. A Ginjnha, tratando-se de uma bebida, é quase uma excepção ao serem invocadas razões técno-funcionais e higieno-sanitárias.
Mas não só a higiene está em causa: Falta de livro de reclamações, condições técnico funcionais, falta ou deficiente rotulagem, falta de registo de carne de bovinos, congelação incorrecta, falta de cadastro comercial ....
As cozinhas dos Hospitais de Sta Maria, Estefânia e Abrantes, foram encerradas, apenas alguns dos muitos supermercados e dos 12.000 restaurantes fiscalizados em 2006 a ASAE encerrou apenas 400, dizem as notícias.
Fora do ramo alimentar em causa também estão a segurança dos brinquedos, que colocam em perigo a segurança ds crianças e a contrafacção: CDs e DVds , vestuário, ténis, marroquinaria e perfumes.
Tolerância zero para com o combate acima. A ASAE tem o meu apoio.
Isto, tem que acabar:
“A cantina da SIC foi fechada, na quinta-feira à noite, por uma equipa da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), na sequência das intoxicações alimentares de que foram vítimas oito colaboradores da estação de Carnaxide.”
(... Estranho as cozinhas as escolas não terem sido ainda notícia...)
- Quanto às feiras e mercados ao ar livre, terá que haver limites ao tipo de artigos com venda autorizada ... o bom senso terá que ser a regra. Vender queijo fresco ou amanteigado num mercado ao ar livre com uma temperatura de 30º não me parece adequado, nem fiambre, nem presunto, nem chouriço....
Para as feiras e mercados a fruta (de todos os tamanhos), os alhos, as cebolas, as azeitonas, os tomates, os vegetais - ninguém os compra se a deterioração for visível a olho nú.
Quanto à indústria ou comércio familiar é preciso mantê-los, o resposta da ASAE não terá que ser proibir ou suspender, mas educar. A utilização das facas para diferentes produtos, das colheres de pau, do chão, das bancadas em alumínio - materiais laváveis e não porosos ... o caminho é longo...lá chegaremos com mais formação.

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I) Lidos os dois textos fico com pena de AB. Deve ter muita dificuldade em viver, uma vez que o que deseja equivale ao fio da navalha, deve estar sempre a cair para um dos lados.
Também eu vivo longamente na Suíça, e, por vezes, sinto falta das regras de higiene da UE. Os fiscais aqui não andam mascarados e armados porque a justiça funciona rápida e eficazmente. De resto os suíços são iguais aos portugueses e se não fossem tão controlados cometeriam os mesmos excessos. Na auto estrada Lausanne Genève há um radar de 5 em 5 km, porque será?

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J) Sou absolutamente contra os "abusos" da ASAE. Mas será que são mesmo abusos?
Não seriam os proprietários de restaurantes, cafés, feirantes que andavam a exagerar nas infracções.
O que me dá raiva é saber que alguns dos infractores que se armam em vitimas e "abusados", passado pouco tempo voltam a repetir as proezas.
Na minha Rua hà uma mercearia daquelas à antiga em que as hortaliças estão praticamente no chão à mercê dos cães que passam. Acham bem?
Na Estrada Nacional 110 na localidade de Venda dos Tremoços (Ferreira do Zêzere)hà um café que nem condições tem para ser café pois o copo de água que é servido com a "bica", sem ser devidamente lavado serve para vários clientes, confeccionáva e servia refeições cozinhadas num fogãozinho mais pequeno do que eu tenho em minha casa. Depois de vistoria da ASAE ficou proibida de o fazer. Sabem que mais menos de um mês depois da visita dos "abusadores" está de novo a servir refeições. Acham Bem?
Mais uma vez repito. Sou contra toda e qualquer especie de abuso, mas gosto da senção de entrar num restaurante e sentir que o prato onde vou comer foi pelos menos devidamente lavado.
O resto é propaganda.

14 de dezembro de 2007 às 15:54  

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