17.4.08

As eleições italianas

Por C. Barroco Esperança
NÃO CONTESTO A DECISÃO DOS ELEITORES, o respeito pelas regras democráticas e a legitimidade dos resultados. Em Itália ou na Venezuela. Na Madeira ou no Zimbabué.
Nunca pus em causa a legitimidade do sufrágio directo, secreto e universal que pauta as minhas convicções. Todavia, o respeito pelas regras não impede a crítica, a frustração e a revolta por algumas consequências.
A eleição de Sílvio Berlusconi, por margem folgada e inquestionável legitimidade, não varre os receios da maioria cujo líder conseguiu unir a direita democrática com o que a Itália tem de pior: a máfia, o clero reaccionário e a economia subterrânea, com o apoio separatista de Umberto Bossi, da Liga Norte, e o fascista, com a inefável Alessandra Mussolini, a honrar o apelido e a herança política, numa exuberante cruzada xenófoba.
O próprio Berlusconi, a contas com a justiça, tem um longo passado de fuga ao fisco e obstrução à justiça. É difícil compatibilizar os interesses do italiano mais rico, dono de três televisões, agências de publicidade, seguros e do clube de futebol de Milão, com os interesses do Estado e o respeito pela independência dos Tribunais. Os antecedentes são, aliás, perturbadores.
Berlusconi é rude, malcriado e arrogante, com rudimentar consideração pelas regras e instituições democráticas. É um Alberto João Jardim à dimensão de um país, apto a fazer a síntese do pior que a Itália tem. Não é um príncipe da Renascença, é um homem de negócios pior do que o Príncipe idealizado pelo culto florentino Maquiavel.
Berlusconi não é apenas um perigo para Itália, é uma ameaça para a Europa onde a falta de escrúpulos e o populismo deixarão de ser um óbice para a conquista do poder.
Talvez seja cínico dizê-lo, mas cada país tem a direita que a esquerda merece. Em Itália, pelo menos, parece.

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3 Comments:

Blogger Luís Bonifácio said...

Olhe que Mussolini não rima com Máfia.

Aliás, o Duce foi, até ao aparecimento do Juiz Falcone, o único Italiano que conseguiu encostar a Máfia à Parede.

Os próprios Estados Unidos aliaram-se à Máfia para poderem ter sucesso na invasão de Itália.

17 de abril de 2008 às 09:44  
Blogger Carlos Barroco Esperança said...

Caro leitor Luís Bonifácio:

É rigorosamente verdade tudo o que afirma.

Mas, os tempos mudam. Como parece ser o caso, em Itália.

17 de abril de 2008 às 14:00  
Blogger Nuno Castelo-Branco said...

O regime começou mal:
1943, a máfia do porto de NY negoceia com FDR a entrada dos americanos na Sicília, em troca do seu regresso ao torrão natal.
1946. os americanos cumprem o acordo, deixando viciar o resultado do referendo ao regime que todos sabem ter dado a vitória a Humberto II
e tudo o resto é o que se sabe, os Andreottis, os Pertinis, os Moros, Craxi, enfim uma gigantesca catrefa de vigaristas de alto coturno. Ainda falam de Portugal! Qual quê?! A Itália de Vitor Manuel e de Cavour já não existe. Que regressem às republicazinhas de sarjeta... desde que continuem a produzir bom gosto, claro! :)

17 de abril de 2008 às 23:08  

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