Vice-versa
Por João Paulo Guerra
As estatísticas, que em geral colocam este país na cauda da Europa e nos quartos traseiros do mundo, acabam de apresentar Portugal no topo: Portugal e a região de Lisboa contam-se entre os campeões europeus do asfalto.
MESMO ANTES DOS 570 QUILÓMETROS com perfil de auto-estrada com que o Governo, num pacote de obras públicas, quer dar um balão de oxigénio à economia, às empresas construtoras e à campanha eleitoral do PS, Portugal e Lisboa contam-se já no topo das zonas europeias com maior densidade de auto-estradas por superfície e por habitantes.
Ora como muito bem sabem os portugueses, as auto-estradas não conduzem ao paraíso do desenvolvimento económico. A opção do betão sustenta temporariamente empresas de construção, e outras a montante e a jusante, alivia a pressão do desemprego, disfarça a realidade social. Depois, rapidamente volta tudo à estaca zero. Os acessos proporcionam circulação mais rápida mas não conduzem a nada. Como bem salientava a notícia do Expresso que revelou a estatística do Eurostat, o PIB de uma região não está directamente ligado ao número de quilómetros de betão. Mas Portugal, que empatou em betão os milhões de Bruxelas dos anos 80 e 90, enquanto outros investiram com evidentes proveitos na educação e na formação, volta à receita sem qualquer originalidade.
O asfalto simboliza o modelo de crescimento pato-bravo. Lisboa está certamente mais perto de Castelo Branco, por exemplo. Mas alguém quer saber dos desertos criados nos meandros da circulação a 120 à hora? Portugal vai reincidir na receita. É que o betão alimenta interesses aos quais os partidos políticos são muito receptíveis e as respectivas clientelas altamente propícias. E vice-versa.
«DE» de 15 Abr 08 - c.a.a.Etiquetas: JPG
1 Comments:
Sim, Lisboa está mais perto de Castelo-Branco. Mas o que se produz em Castelo Branco justifica uma auto-estrada para escoamento? Não. Comparemos o que Portugal e a Irlanda fizeram com as ajudas comunitárias. Os resultados estão à vista e não vale a pena e sr. Aníbal puxar dos galões, porque ele é um dos responsáveis pela situação.
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