Um bom 25 de Abril
Por Antunes Ferreira
DE NOVO, O 25 DE ABRIL. Há muito boa gente que se recorda dessa data em que o Movimento dos Capitães avançou contra a ditadura e a tirania que sobreviviam, lancinantes, em Portugal. Essa aventura épica traria como consequência a Liberdade e a Democracia ao nosso País. Por isso, o 25 de Abril ficou, fica e ficará para sempre na História. Na deste rincão à beira-mar plantado – e na Universal.
São passados 34 anos e, para mim, como para muitos outros, parece que foi ontem. Estava, então, em Luanda, onde ficara a viver depois de cumpridos os cinco anos de serviço militar obrigatório que me couberam em sorte. Os meus filhos recordam-se perfeitamente de me verem com os ouvidos colados ao rádio Sony que tinha em casa, e com as lágrimas correndo-me pela cara.
O do meio, o Paulo, perguntara à Mãe por que motivo o Pai estava a chorar. Foi um tanto difícil explicar-lhe que era de alegria. Ele tinha, na altura, acabado de fazer oito anos… Mas, como já então, quer ele quer os irmãos se debruçavam sobre livros e jornais (o Miguel estava a caminho dos dez e o Luís Carlos dos cinco, mas já sabendo ler bem, para ver o que eu escrevia…) as coisas foram-se tornando mais fáceis de explicar e de entender.
Soubera da madrugada redentora do dia 25 de Abril, ao meio dia, mais coisa, menos coisa, do dia… 25 de Abril. Foi uma correria. A alegria que me penetrou sem pedir autorização (ai dela que o fizesse!) e me encheu o corpo e o espírito todos, foi, se possível, aumentando à medida que chegavam, via radiofónica principalmente, catadupas de notícias, qual delas mais empolgante e emocionante. Donde, as lágrimas.
No dia 3 de Maio estava caído em Lisboa. Falhara até o primeiro Dia do Trabalhador em Liberdade, sem a salazarenta opressão. Mas, a TAP entrara em… greve. Liberdade, liberdade, quem a tem chama-lhe sua. Eu não tenho liberdade nem de pôr o pé na rua, cantava a Maria da Graça.
Isto é tão-só um registo e uma homenagem. Os que já se esqueceram que houve um 25 de Abril, façam o favor de recordar-se – e ser felizes. Os que não sabem (ou não querem saber) o que foi – façam o obséquio de se informar. A todos – um bom dia 25 de Abril. Ponto. De exclamação
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7 Comments:
Tinha doze anos, incompletos, mas lembro-me dessa data como se praticamente tivesse sido há uns meses atrás. Há factos, sem dúvida, que nos marcam e nos acompanham a vida toda. Não é que soubesse exactamente o que se estava a passar, excepto que o regime vigente tinha caído e, com a ajuda dos militares, a liberdade e o poder eram devolvidos a quem de direito, o povo. Olhava em redor e via pessoas alegres, pessoas que falavam, discutiam e tinham esperança no futuro. Foi nesse ambiente que cresci e me fiz homem. Hoje, sem dúvida, tenho a certeza que, independentemente de muitas coisas que não vale a pena aqui assinalar, valeu a pena ter conhecido a revolução.
O problema é que a revolução foi feita pelo povo e para o povo, e o que vemos nós?
Observamos que os governantes, em vez de melhorarem a vida do povo, conseguem piorá-la de dia para dia, sendo, como sempre, os pobres os mais prejudicados. Deixo alguns exemplos vergonhosos, que respiguei do site da AMI: http://www.ami.org.pt/default.as...p22p504&l=1& l=1
Os números da Acção Social da AMI em Portugal
Procura dos Centros Porta Amiga cresce 11% em 2007
(…)
Ajuda alimentar: número de pessoas apoiadas triplicou em 2007
(…)
Mulheres cada vez mais afectadas pela pobreza
(…)
Grande Lisboa: mais 30% entre 2003 e 2007
(…)
Mais apoio a sem-abrigo
Também nos abrigos nocturnos houve um aumento do número de pessoas apoiadas. No abrigo da Graça, em Lisboa, deram entrada 44 novos casos.
(…)
Felizmente, enquanto os governos tiram a AMI dá… o que pode… mas não chega.
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que as rosas - todas as rosas! - jamais espinhem o amantíssimo cravo.
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Caro Medina Ribeiro:
Aproveito para deixar aqui, porquanto o não posso fazer no espaço apropriado para o efeito, a expressão: cubo da raiz quadrada de a: (√a)3
Caso não funcione, queira aceitar, desde já, as minhas desculpas.
Abraço, bom feriado e bom fim-de-semana.
P.S.: tenho o problema resolvido, mas como não estarei por cá amanhã, e não terei pc no local onde me encontrarei... :)
No 25 de Abril, há sempre duas coisas que me entristece.
1 - Uma facção, infelizmente crescente, que desvaloriza a data. Desde os jovens que já nasceram em democracia e nem sabem bem o que se passou mas, e sobretudo, os que viveram no tempo da 'outra senhora' e que agora apontam as virtudes do passado, a "segurança" ou até "eu não falava nem falo de política, a mim nunca me fizeram mal". Como é fácil branquear o passado!
Em segundo, os que consideram que "não se cumpru Abril" e se mostram amargurados com o país. A democracia nunca é perfeita, há sempre mais a fazer por ela e pelo país, mas os portugueses só podem estar contentes com as conquistas destes 34 anos.
Caro "peregrino". Compreendo bem a justeza da sua indignação mas acredite que apesar de tudo isso... valeu bem a pena. Por aqui imagine a situação em que se vivia antes e quão necessária foi a Revolução. Cumprimentos. /amp
Caro António,
Leia, pf, nas minhas palavras, tão-só o desalento provocado pela "má qualidade" dos políticos que nos governam, que não a justeza da Revolução de Abril.
Abraço e bom fim-de-semana.
Concordo com tudo o que escreveu o Antunes Ferreira. Também eu vivi de forma inesquecível, mas diferente o 25 de Abril de 1974. Estava a viver com os meus Pais na Venezuela.
O meu saudoso Pai Carlos Armando explicou o que era a revolução dos cravos e o que queria dizer democracia e liberdade. Agradeço-lhe.
Hoje, já em Portugal, sei que ainda há muito por fazer; mas já se fez muito. Viva i 25 de Abril!
Acabei de ler o livro que Antunes Ferreira publicou e de que tive conhecimento por este blog. Está muitíssimo bem escrito. E retrata fielmente o que se passava numa guerra criminosa em que também participei, sem saber porquê.
Antunes Ferreira escreve e muito bem sobre o seu 25 de Abril de 1974. Uma face do NOSSO 25 de Abril. Bravo!
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