Bernardim
UM DIA, EM PERUGIA, um antiquário perguntou-me a nacionalidade. Para minha surpresa, ouvi um elogio a Bernardim Ribeiro, que o senhor considerava o pai do moderno romance.
Nós, portugueses, temos muita coisa e muita gente que lá fora têm o respeito que aqui lhes negamos, como no caso de Bernardim, agora afastado do ensino secundário, não fossem os portugueses querer lê-lo e estudá-lo.
Escusado será dizer que fui reler o “Menina e Moça”, eu que prefiro a dor das éclogas. Mas o meu interlocutor tinha razão. Bernardim e o “Menina e Moça” foram os primeiros a desprenderem-se das convenções da ficção coeva para assumirem, obra e autor, a narrativa feminina da solidão e da saudade. Amor, natureza, mudança e distância estão lá inteirinhos.
Fiquei muito contente ao ver que o Torrão, Alcácer do Sal, reclama Bernardim como seu e o festeja justamente. Pena que do Torrão a Almada só haja cultura das reservas de patos bravos.
«24 Horas» de 19 de Junho de 2008
Etiquetas: JL
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