15.8.08

Cenas da vida conjugal

- O que farias bem era deitar-me fora e comprares outro marido em bom estado, amanhã.
- Estás louco, põe-te bom. Vais ficar bom e vamos tentar de novo.
A cabeça parecia estalar ao homem, com dores e pressões internas que não o deixavam quase pensar, sentindo-se unicamente melhor com os olhos fechados e com a cabeça na almofada, o corpo aquecido sob as cobertas da cama.
- Para que sirvo eu, assim?
- Homem, porque estares a mortificar-te e a fazeres-me sofrer a mim?
A ideia ganhara forma na sua cabeça dorida. Apetecia-lhe ficar assim, de olhos fechados, a dor a latejar, as têmporas a estalar, o calor da cama, sozinho, sem ruídos em casa, sem crianças a fazerem barulho, sem o toque do telefone, sem os saltos altos da mulher a matraquearem o soalho envernizado. Queria que o deixassem sofredor, dorido e abandonado.
- Deita-me fora e arranja um gajo em condições, amanhã.
O dia crescia em horas desde que estava doente. As dores não permitiam que dormisse, a vida passava diante dos olhos cerrados e encovados e os dias escoavam-se inúteis, sem vida nem objectivo, sem amor nem esperança.
(...)
Texto integral [aqui]
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NOTA (CMR): esta e as «Histórias...» anteriores estão também no blogue do autor, Histórias de Chorar por Mais

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