14.8.08

Terroristas de Deus

Por C. Barroco Esperança
POR TODO O MUNDO CRESCE a agressividade clerical e o apelo ao ódio e à violência contra os infiéis, isto é, os fiéis da concorrência e os que recusam a santidade e o Paraíso.
Não há dia em que o sangue não jorre para maior glória do deus que os facínoras sabem ser o único verdadeiro e da religião que tem o monopólio da salvação da alma e o alvará da agência de transportes para o Paraíso.
Em Marrocos acaba de falhar a tentativa de instalar câmaras de televisão nas mesquitas. Maomé, segundo garantem os pregadores, nunca foi apologista de tais modernices. Os créus também não. E os inflamados pregadores da palavra do Profeta não querem que o poder político se imiscua nos apelos feitos aos crentes para que espalhem a fé, a bem ou a mal. Se necessário à bomba.
Na Europa, uma jornalista acaba de ver recusado o lançamento de um livro com o editor assustado com a reacção dos islamitas. O médico egípcio Ayman al-Zawahiri, lugar-tenente de Usama bin Laden, apela à guerra santa em território paquistanês. Os pios pregadores islâmicos deslocam-se à Europa para excitar os fiéis com o triunfo próximo do Islão. O Irão ameaça erradicar Israel. Até na China, com um governo despótico, uns desvairados islamitas fazem atentados enquanto o pregador Bush, de visita aos Jogos Olímpicos, apela à difusão da fé e reza pela vitória dos atletas americanos.
Crentes de várias proveniências, entre orações e actos de terrorismo, apenas pensam em salvar a alma alheia sem descurar a própria. E os governantes europeus, pusilânimes e incultos, esquecidos das violentas guerras religiosas do passado, são incapazes de usar para os pregadores do ódio religioso as mesmas medidas de precaução e vigilância com que perseguem malfeitores de origem diferente.
Sem um sobressalto republicano e laico, sem a supremacia da cidadania sobre alegadas tradições culturais, sem a sujeição do direito canónico ao direito civil e das exibições de fé aos ditames do Código Penal, não defendemos o pluralismo e a diversidade cultural, estamos a estimular o regresso à barbárie e a abrir as portas por onde entram os inimigos da democracia, da modernidade e do laicismo.
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NOTA: esta crónica, juntamente com outras do mesmo autor, está também no blogue Ponte Europa

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2 Comments:

Blogger Menina Marota said...

E a Inquisição? Em que padrões se assentou?

Bom tema, mas que parece que continua ainda a assustar muita gente, a ver pelos comentários que... não possui.

Um abraço ;))

15 de agosto de 2008 às 14:34  
Blogger Carlos Esperança said...

Menina_marota:

O proselitismo e a intolerância são comuns às várias religiões.

Veja estas declarações sobre os Jogos Olímpicos:

«Aquilo que as mulheres usam nos jogos Olímpicos é a pior roupa que é possível vestir. É uma invenção do Diabo (…), nunca as mulheres apareceram tão despidas como surgem nas Olimpíadas», fulminava segunda-feira um dos elementos da hierarquia religiosa saudita, Muhammad Al-Munajid, numa entrevista à televisão Al-Majd.

Para este clérigo não há dúvidas de que «a exposição do corpo feminino nesta escala global é uma grande alegria para Satanás».

Fonte: Diário de Notícias, ontem, pág. 41

15 de agosto de 2008 às 22:15  

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