9.2.09

Reclamar

Por João Paulo Guerra

A generalidade dos portugueses com mais de 40 anos aprendeu em casa e na escola a comer e calar, a temer o poder e a respeitar a ordem.
RECLAMAR E PROTESTAR não cabiam propriamente nos costumes do redil, atrasado e pobre mas que lá ia na vida cantando e rindo. Depois, não propriamente uma geração mas um nicho etário, pôs em prática a liberdade de contestar. Um fogacho. A partir da normalização da espécie de democracia em Portugal, virada para a competição e apostada no sucesso, cada um governa-se e protesta, ou não, se lhe dá jeito. Mas não há, neste país de mártires e de heróis, hábitos nem práticas sustentadas de cidadania.
De maneira que o Livro de Reclamações é uma instituição muito bem-intencionada mas da mais absoluta inutilidade. Sei do que falo. Subscrevi três reclamações nos livros respectivos. De uma das vezes, respondeu-me o próprio funcionário responsável pelo serviço contra o qual reclamava, insultando-me. De outra, passado um ano convocaram-me para saber se confirmava a reclamação e, passados dois, informaram-me que eu não tinha razão alguma: era pois perfeitamente admissível que uma grande cafetaria num centro turístico de Lisboa não dispusesse de pão para servir uma torrada pelas 11 horas da manhã de um domingo. Da terceira vez nem sequer me responderam.
E surge agora o caso dos portugueses que pretendem reclamar e grande número de estabelecimentos simplesmente se recusa a apresentar o livro de reclamações. E onde e como e quando se reclama contra a falta do livro de reclamações? É a "solução final" para esta veleidade de cidadania. Nesta matéria há ainda a "solução" à Bill Foster, protagonista do filme "Falling Down". Mas isso não cabe nos brandos costumes do país.
«DE» de 9 de Fevereiro de 2009

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3 Comments:

Blogger Oscar Maximo said...

? Concerteza que tem de chamar a policia para tomar conta da ocurrência, como dizem, e depois contactar um ministério, talvez a ASAE.

10 de fevereiro de 2009 às 00:49  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Recebi, por mail, esta informação (não confirmada) acerca do filme:

«É a história de um tipo a quem tudo corre mal e se "passa da cabeça". À medida que o filme progride vai-se metendo em alhadas cada vez maiores e vai aumentando o seu arsenal de guerra... começando com um taco de basebol numa loja de conveniência, mas acabando de metralhadora».

10 de fevereiro de 2009 às 11:23  
Blogger JSA said...

E acabando morto, para dizer a verdade...

O filme, que creio ter visto por volta de 94, é assim para o fraquito (como a maior parte dos filmes de Joel Schumacher, o realizador). Tem a curiosidade de ter Michael Douglas a passar-se e Robert Duvall no papel de polícia no seu último dia de trabalho antes da reforma a tentar evitar o desfecho.

13 de fevereiro de 2009 às 09:18  

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