“Capar morangos”!

Por Joaquim Letria

PERDI O MEU PRIMEIRO CHEFE, um líder e camarada, um dinamizador de vontades e talentos e criador do maior diário português. Falo de Vítor Norberto Lopes Direito, um trasmontano que resistiu à ditadura e à democracia e a quem só o amor de sua mulher e de seus filhos de adopção agarraram nas contra-curvas da vida por onde navegou com o “Diário de Lisboa”, a “República”, “A Luta” e o “Correio da Manhã”.

Vítor Direito foi quem me ensinou o B+A=BA duma profissão difícil e duma indústria complexa e me deu as bases de tudo o que viria mais tarde a aprender, de muitas e diferentes proveniências. Quando nos conhecemos, na Redacção do “Diário de Lisboa”, eu tinha 18 anos e ele 31. O Vítor trabalhava de chapéu porque sofria de sinusite.

É difícil compreender que Vítor Direito nunca tenha ganho prémios nem benesses de tantos que lhe passaram pelas mãos e as distribuem agora por aí.

É melhor assim, chefe! Pode continuar a rir-se deles para todo o sempre. E mandá-los direitinhos capar morangos, como fazia connosco.

«24 Horas» de 6 de Abril de 2009