7.4.09

Espera

Por João Paulo Guerra
A política é mensurável: mede-se pelos resultados. E as políticas de saúde, desde que a liquidação do SNS entrou na ordem dos dias, têm como resultado 655 mil pacientes em lista de espera por uma primeira consulta ou cirurgia.
AS ESTATÍSTICAS NÃO VÃO REVELAR quantos destes pacientes encontram a morte antes de serem chamados para a consulta.
Se Portugal fosse um país a sério, o Estado e os agentes respectivos seriam duramente penalizados ao primeiro caso de morte por falta de assistência, consubstanciada no atraso de uma primeira consulta ou cirurgia. É que o Estado, tal como manda a Constituição, tem o dever de garantir a todos o direito à protecção da saúde, "através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito". Ora nem mesmo pagando - impostos e taxas moderadoras que, ao invés de cessarem, como se discutia, dispararam de preço este ano - os doentes portugueses têm assegurado o direito à saúde. Garantido, garantido, quando muito têm o direito a morrer em lista de espera.
Não é preciso ser médico ou enfermeiro, ministro ou secretário de Estado, chefe de Missão ou vogal de Observatório, paciente, técnico ou burocrata para saber que a prevenção, o diagnóstico precoce, a cirurgia a tempo podem salvar milhares de vidas atingidas por algumas das mais fatais doenças da civilização actual. Com as políticas de saúde seguidas em Portugal desde que governos e governantes renegaram o Serviço Nacional de Saúde - como diz o seu próprio fundador - pode vir a acontecer com muitos doentes esta trágica situação: salvar-se-iam de uma doença fatal mas não sobrevivem a um governo e a uma política.
«DE» de 7 de Abril de 2009

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