18.9.09

Jorge de Senna

Por Joaquim Letria

OS RESTOS MORTAIS de Jorge de Senna ficaram no cemitério dos Prazeres depois duma apagada cerimónia fúnebre com familiares e algumas figuras secundárias deste regime, na Basílica da Estrela.

Mércia, a companheira do poeta, não pôde estar presente, por motivos de saúde. Falecido há anos em Santa Mónica, Califórnia, onde foi professor e viveu a parte mais longa do seu exílio iniciado no Brasil, Jorge Senna descansa num jazigo preparado numa acção deste Governo que, nesta época, dificilmente deixa de parecer um acto de propaganda eleitoral, embora tendo o mérito de devolver o poeta indesejado à pátria e de reconciliar esta com a sua memória.

Não se compreende porque não está Senna no Panteão, lugar merecido e que lhe competia, por muito também que se possa estranhar a sua trasladação para Portugal, tão apagada e a más horas.

Jorge Luís Borges, o escritor argentino apreciado pelo mundo inteiro, continua sepultado em Genéve, na Suiça, onde morreu, e nunca se levaram a sério sugestões de o sepultarem no La Recoleta, em Buenos Aires.

Conheci Senna em Londres, nos anos 70, tendo-me sido apresentada essa figura ímpar por Alberto Lacerda. Deviam agarrar na obra de Senna e pôr os portugueses jovens a lê-la, obrigatoriamente, antes que os nossos queridos educadores o apaguem, como apagaram Bocage, Verde, Miguéis, Lopes, Camões e outros.

«24 horas» de 18 de Setembro de 2009

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3 Comments:

Blogger António Viriato said...

Caro Joaquim Letria,

Parece algo irónico que Jorge de Sena esteja a ser homenageado pelo Governo Socrático, cuja prática, na Educação, na Cultura ou na Política, Sena certamente zurziria, com aquela veemência que o caracterizava.

Suponho que os mesmos ou os eus continuadores que nunca o convidaram para leccionar na Universidade em Portugal, ao contrário do que fizerm com inúmeras nulidades apaniguadas, a quem ofereceram Cátedras a granel, na euforia de Abril, aparecem agora como seus benfeitores, votados à recuperação da sua memória, rapidamente perdida no Portugal modernaço, de sucesso, mas superficial e sumamente bacoco em que este se transformou, pela mão de pseudo-revolucionários subitamente alcandorados a poleiros de mando fácil, carregados de novas mordomias, sinecuras e prebendas.

Que falta hoje nos faz a voz de Sena, fina, mas percuciente, para incomodar tanta pedantaria reinante, tanta vacuidade ruidosa.

Fez bem em dedicar-lhe algumas boas palavras. Igual coisa lhe fiz, na minha tribuna, em Julho do ano passado, na sequência da sessão do S. Carlos, no Chiado, onde, surpreendentemente, compareceu muita gente, que não pôde, no entanto, intervir, para inquirir os supostos especialistas da obra de Sena, que ali falaram de Cátedra.

Estranha forma de organizar sessões culturais, quando tanto se lamenta a falta de participação cívica do povo português. Ainda assim, mereceu a pena realizá-la, porque já ninguém falava dele, nem da sua obra, excelente e variada, contundente, imprópria para consumo de muitas figuras mediáticas, obra, na verdade, mas pouco lida neste tempo deslumbrado com historietas de mistérios e de milagres múltiplos, para todos os gostos democráticos.

Saudemos, apesar das circunstâncias, o regresso tardio dos seus ossos à Pátria que lhe foi madrasta e agora grandemente entontecida o recolhe no seu empobrecido chão, tão agreste para o irreverente intelectual, emérito Professor, Poeta inspirado, como sempre Sena se nos revelou.

Parece algo irónico que Jorge de Sena esteja a ser homenageado pelo Governo Socrático, cuja prática, na Educação, na Cultura ou na Política, Sena certamente zurziria, com aquela veemência que o caracterizava.

Suponho que os mesmos ou os eus continuadores que nunca o convidaram para leccionar na Universidade em Portugal, ao contrário do que fizerm com inúmeras nulidades apaniguadas, a quem ofereceram Cátedras a granel, na euforia de Abril, aparecem agora como seus benfeitores, votados à recuperação da sua memória, rapidamente perdida no Portugal modernaço, de sucesso, mas superficial e sumamente bacoco em que este se transformou, pela mão de pseudo-revolucionários subitamente alcandorados a poleiros de mando fácil, carregados de novas mordomias, sinecuras e prebendas.

Que falta hoje nos faz a voz de Sena, fina, mas percuciente, para incomodar tanta pedantaria reinante, tanta vacuidade ruidosa.

Fez bem em dedicar-lhe algumas boas palavras. Igual coisa lhe fiz, na minha tribuna, em Julho do ano passado, na sequência da sessão do S. Carlos, no Chiado, onde, surpreendentemente, compareceu muita gente, que não pôde, no entanto, intervir, para inquirir os supostos especialistas da obra de Sena, que ali falaram de Cátedra.

Estranha forma de organizar sessões culturais, quando tanto se lamenta a falta de participação cívica do povo português. Ainda assim, mereceu a pena realizá-la, porque já ninguém falava dele, nem da sua obra, excelente e variada, contundente, imprópria para consumo de muitas figuras mediáticas, obra, na verdade, mas pouco lida neste tempo deslumbrado com historietas de mistérios e de milagres múltiplos, para todos os gostos democráticos.

Saudemos, apesar das circunstâncias, o regresso tardio dos seus ossos à Pátria que lhe foi madrasta e agora grandemente entontecida o recolhe no seu empobrecido chão, tão agreste para o irreverente intelectual, emérito Professor, Poeta inspirado, como sempre Sena se nos revelou.

Mais uma oportuna crónica aqui ficou lavrada.

Um seu leitor antigo, atento, quase sempre concordante.

19 de setembro de 2009 às 06:35  
Blogger António Viriato said...

Peço licença para corrigir alguns erros do anterior comentário :

Caro Joaquim Letria,

Parece algo irónico que Jorge de Sena esteja a ser homenageado pelo Governo Socrático, cuja prática, na Educação, na Cultura ou na Política, Sena certamente zurziria, com aquela veemência grandiloquente que o caracterizava.

Suponho que os mesmos ou os seus continuadores, que nunca o convidaram para leccionar na Universidade em Portugal, ao contrário do que fizeram com inúmeras nulidades apaniguadas, a quem ofereceram Cátedras a granel, na euforia de Abril, aparecem agora como seus benfeitores, votados à recuperação da sua memória, rapidamente perdida no Portugal modernaço, de sucesso, mas superficial e sumamente bacoco em que esta terra se transformou, pela mão de pseudo-revolucionários subitamente alcandorados a poleiros de mando fácil, carregados de novas mordomias, sinecuras e prebendas.

Que falta hoje nos faz a voz de Sena, fina, mas percuciente, para incomodar tanta pedantaria reinante, tanta vacuidade ruidosa.

Fez bem, JL, em dedicar-lhe algumas boas palavras de evocação. Igual coisa lhe fiz, na minha tribuna, em Julho do ano passado, na sequência da sessão do S. Carlos, no Chiado, onde, surpreendentemente, compareceu muita gente, que não pôde, no entanto, intervir, para inquirir os supostos especialistas da obra de Sena, que ali falaram de Cátedra.

Estranha forma de organizar sessões culturais, quando tanto se lamenta a falta de participação cívica do povo português. Ainda assim, mereceu a pena realizá-la, porque já ninguém falava dele, nem da sua obra, excelente e variada, contundente, imprópria para consumo de figuras mediáticas, obra, na verdade, pouco lida neste tempo deslumbrado com historietas de mistérios e de milagres múltiplos, para todos os gostos democráticos.

Saudemos, apesar das circunstâncias, o regresso tardio dos seus ossos à Pátria que lhe foi madrasta e agora grandemente entontecida o recolhe no seu empobrecido chão, tão agreste para o irreverente intelectual, emérito Professor, Poeta inspirado, como sempre Sena se nos revelou.

Mais uma oportuna crónica aqui ficou lavrada.

Um seu leitor antigo, geralmente atento e quase sempre concordante.

19 de setembro de 2009 às 06:50  
Blogger Táxi Pluvioso said...

Ele devia ter deixado em testamento que nunca mais quereria voltar a Portugal, ninguém gosta de um país de tolos, nem depois de morto, mesmo os que têm a mania que são espertos, são tolos.

19 de setembro de 2009 às 07:19  

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