14.1.10

As gravatas do poder

Por Joaquim Letria

UMA GRAVATA GOVERNAMENTAL é muito mais vistosa do que uma gravata da oposição. Faz lembrar a gravata de Lenine, no mausoléu da Praça Vermelha, feia e a recordar o plano quinquenal dos têxteis para os armazéns Gum.
Tenho a certeza de que quando Lenine era vivo, antes do trecolareco que o vitimou, tal como no-lo apresentam no mausoléu, a gravata de Vladimir Illich era a gravata do líder, a gravata do camarada Lenine, sem que ninguém se atrevesse a criticá-la, nem sequer a menosprezá-la.

O PS e o PSD habituaram Portugal ao estilo Hermés, fazendo moda pela cópia imoderada dos gestores das empresas públicas, que reproduziram todas as modas, ainda hoje: gravatas, fatos, carros, cartões de crédito e montes no Alentejo.

Guterres trouxe a gravata lisa e escura, sem desenhos nem impressões. Ninguém se atrevia a revoltar-se contra uma gravata lisa e escura, adereço de fato para câmaras de televisão. A coisa foi tão bem feita que ainda hoje ninguém se lembra da maioria dos ministros de Guterres desde que não saltem em mais um escândalo de corrupção.
Sócrates e seus acompanhantes adoptaram o fato azul com gravata carmesim ou azul celeste. As gravatas do líder máximo são as gravatas da governação do Estado e da liderança da banca. As gravatas da desgraça.
«24 horas» de 14 de Janeiro de 2010

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