3.3.11

Angola

Por João Paulo Guerra

OS PORTUGUESES estão a emigrar para Angola, rapidamente e em força, e as remessas desses emigrantes voltam a ser um bálsamo para a debilitada contabilidade do País. É triste que três décadas e meia após o derrube do regime de repressão, de atraso e de guerra colonial - factores que determinaram uma verdadeira diáspora no século passado - a emigração volte a ser uma rara luz ao fundo do túnel para os portugueses. Quer isto dizer que mais de trinta anos de governos em democracia não deram aos portugueses mais nada que a ditadura: a perspectiva da porta de saída para a emigração. A diferença é que antes se emigrava a salto e agora, em geral - embora haja excepções -, se parte com papéis em ordem e contrato de trabalho.

Também é sintomático que Angola seja actualmente o principal destino de emigração dos portugueses. A questão é que se inverteram os papéis do irmão rico, irmão pobre. Para Angola, noutros tempos, emigravam os portugueses pobres do interior. Agora emigram quadros e técnicos que não encontram trabalho no seu País. Portugal organizou em Angola um império de trabalho forçado, como essa ou outra designação. Os portugueses que emigram vão agora ao encontro de uma economia pujante - embora com óbvias e porventura chocantes assimetrias -, que até investe em força em Portugal. Quanto às desigualdades, por mais gritantes que sejam, não são nada que os portugueses não conheçam e encontrem no seu próprio país.

Felizmente, para muitos portugueses, algo resultou da Revolução que o País acolheu com tanta esperança há 36 anos. E esse, apesar de todas as vicissitudes e dramas, foi o mais vilipendiado dos desígnios da Revolução. O ‘D' da descolonização está a dar mais aos portugueses que ‘d' do desenvolvimento.
«DE» de 3 Mar 11

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